SUL FLUMINENSE
O percentual de famílias endividadas no estado do Rio de Janeiro atingiu o índice de 61,6% em julho, registrando a queda de -0,3% frente a junho, mas registrou alta de 1% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O levantamento é da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio), apurado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A pesquisa revelou que a pequena queda observada, entre os meses de junho e julho, se deve exclusivamente à diminuição do percentual de endividados entre as famílias que ganham mais de 10 salários mínimos, cuja percentagem variou -5,4% entre junho e julho e atingiu 41,3%. O recuo do número de famílias endividadas foi acompanhado também pela redução das famílias inadimplentes, que registrou em julho 27,7%, queda de -0,6% no comparativo com o mês de junho. Entre as famílias que ganham até 10 salários mínimos, o percentual de endividados cresceu 1,1% frente a junho e atingiu 66,8% no mês de julho.
CONTAS EM ATRASO
Segundo a Fecomércio, o contingente de famílias que revelou não ter condições de pagar as contas em atraso subiu 0,1% em julho, frente a junho, e atingiu 14% – o valor é 4% superior ao observado no mesmo período do ano passado. A análise estadual que mostra bem o que enfrenta a família da dona de casa Fernanda Braga, 48 anos, moradora de Resende. “Eu vinha pagando tudo em dia, até meados de abril. De junho pra cá o dinheiro parece que sumiu. Em julho de fato não tivemos recurso para cumprir com aluguel, parcela da escola dos meninos e até alguns cursinhos que eles faziam tive que brecar. A economia está estagnada, o dinheiro não rende e ainda temos problemas de perda de emprego e renda na família”, comenta.
A universitária Isabela Sampaio, 32, de Barra Mansa, também trancou o curso universitário pela falta de recursos, assumindo não ter como pagar as quatro parcelas em atraso desde o primeiro trimestre. “Era meu curso, formação, ou a rotina da casa, cuidar e investir na alimentação, vestuário da minha filha. O dinheiro meu e do marido não tem dado conta e olha que optamos em pagar à vista a maioria das dívidas. As contas em atraso me venceram, mas acredito que em 2020 tudo estará normalizado. Quero de agora até dezembro colocar a ‘casa’ em ordem”, brincou, lembrando que do saldo devedor em torno de R$ 7 mil, irá propor parcelamento de boletos para evitar ter que deixar de pagar outras despesas mensais. “Já reduzimos os custos no supermercado e vestuário. Lazer então, nem pensar. É difícil assumir que não tem como pagar uma dívida contraída, mas penso que é melhor enfrentar do que deixar virar uma bola de neve”, opina.
VILÃO DE ‘PLÁSTICO’
No contexto do endividamento das famílias o grande vilão é o cartão de crédito com 76,5% dos endividados, segundo a análise da Fecomércio. Os endividados com o cartão de crédito representam 5,4 vezes o total do contingente de endividados com carnês, que é de 14,2%, sendo a segunda maior modalidade de endividamento de julho. “Eu tive três cartões e usei o limite de todos, simultaneamente. Foi um erro grave, agora recebo faturas mensais e não consigo manter o pagamento mínimo, o rotativo é alto. Meu gerente disse pra eu quitar o de menor valor, até pagar todos. Devo uns R$ 15 mil em cartão e tenho renda mensal de R$ 2,9 mil”, conta a representante comercial, Bruna Chaves, 41 anos, de Itatiaia.
Segundo o economista-chefe da Fecomércio, João Gomes, os juros do cartão de crédito são os mais altos do mercado financeiro. “É interessante observar que os juros que incidem sobre as dívidas contraídas no cartão de crédito estão, historicamente, entre os três mais altos do mercado. Em junho, a taxa média de juros cobrada no crédito rotativo (automaticamente contraído quando a fatura do cartão não é paga integralmente) atingiu 300,1% ao ano, enquanto a taxa média de juros incidente sobre o parcelamento do cartão registrou valor igual a 175,6% ao ano”, destaca.
O número de famílias fluminenses que não terão condições de pagas as dívidas em atraso subiu de 328.788 em junho para 332.468 em julho. É o sexto aumento consecutivo.