BRASÍLIA
As concessões de crédito, para o período de 1º de março a 20 de novembro de 2020, somam R$ 2,9 trilhões, incluindo contratações, renovações e suspensão de parcelas. Estes dados incluem os números oficiais já divulgados pelo Banco Central (BC) para os meses de março a outubro, que atingiram R$ 2,7 trilhões, considerando o total das operações de crédito. Também incluem dados consolidados pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) até o dia 20 de novembro, que já somam R$160 bilhões. Neste caso, considerando apenas as operações no segmento livre de crédito para Pessoa Jurídica (PJ). E, no caso de Pessoa Física (PF), os números de novembro consideram o imobiliário, mas não as operações de crédito rotativo.
Além disso, no período de 16 de março a 20 de novembro, o setor já renegociou 16,1 milhões de contratos com operações em dia, que têm um saldo devedor total de R$ 937 bilhões. A soma das parcelas suspensas dessas operações repactuadas totaliza R$ 134,5 bilhões. Esses valores trazem alívio financeiro imediato para empresas e consumidores, que passaram a ter uma carência entre 60 a 180 dias para pagar suas prestações, sendo que a maioria dos agentes beneficiados com prorrogação de parcelas é representada por pequenas empresas e pessoas físicas (R$ 71,8 bilhões).
Entre 16 de março e 20 de novembro, o setor bancário já fez concessões de crédito para as micro e pequenas empresas de cerca de R$ 278,1 bilhões, incluindo novos contratos e renovações. Nesse período, o setor renegociou 1,7 milhão de contratos de micro e pequenas empresas, no valor total de R$ 102,8 bilhões, com carência entre 60 a 180 dias para o pagamento, com alívio no pagamento de parcelas de R$ 17,2 bilhões. Esta postergação permitiu que estas empresas mantivessem esses recursos em seu poder para honrar outros compromissos. Importante registrar que no âmbito do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) já foram realizadas 475,9 mil operações, com desembolsos de R$ 32,8 bilhões.
O quadro a seguir traz a evolução das concessões nos meses de março a outubro de 2020, com base nas notas de crédito do BC, comparando com o mesmo período em 2019, quando o mercado de crédito já vinha em ritmo forte de crescimento, em especial no segmento livre.
Os números de março a outubro de 2020 ante o mesmo período de 2019 apontam para um crescimento importante das operações de crédito para pessoa jurídica (13,7%). Na comparação entre março e outubro de 2019 com o período de 16 de março a 20 de novembro de 2020 (desde quando a OMS declarou a pandemia), utilizando dados gerenciais, houve alta significativa nas concessões (considerando renovações e adiamento de parcelas) para Pessoa Jurídica no segmento livre, de 34,3%, considerando a média por dia útil para cada período.
Apesar do aumento do risco nas operações de crédito e a expectativa de aumento da inadimplência, que já se materializou na elevação das provisões (PDD), as taxas de juros e os spreads bancários mostraram seguidos recuos mensais no período de fevereiro a setembro. Agora em outubro, as taxas de juros e os spreads mostram ligeira alta após sete meses consecutivos de recuo durante a pandemia.
A elevação das taxas de juros no mês de outubro é em boa parte explicada pelo aumento do custo de captação (funding) das instituições financeiras, provavelmente refletindo a piora do quadro fiscal do País e o consequente aumento da inclinação da curva de juros futuros. Note que, diante do aumento das taxas de juros em função dos custos de captação, a elevação do spread bancário foi bem mais modesta. Ainda, vale citar que a partir de dezembro as operações de crédito voltam a sofrer incidência do IOF, o que pode trazer novas pressões sobre as taxas de juros das operações ativas das instituições financeiras.
A ressaltar, contudo, que as taxas de juros e os spreads seguem em patamares historicamente baixos, consideravelmente inferiores aos níveis pré-pandemia. Em relação a fevereiro, mês que antecede a crise, a taxa de juros para o conjunto das operações de crédito recuou de 23,1% para 18,7% ao ano (-4,4 pp), enquanto o spread médio das operações de crédito caiu de 18,6% para 14,6% (-4,0 pp). Esta tendência é ainda mais acentuada no caso das operações com recursos livres, para as quais a taxa média está 7,7 pp abaixo do patamar de fevereiro (em 26,5% aa) e o spread médio se encontra 7,5 pp abaixo (em 21,5% aa).