Famílias relatam o desejo de adotar e contam um pouco de suas histórias na busca do sonho

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BARRA MANSA

“Eu procuro um amor que ainda não encontrei. Diferente de todos que amei. Nos seus olhos quero descobrir, uma razão para viver. E as feridas dessa vida eu quero esquecer […]. No Brasil, cerca de 47 mil crianças vivem em instituições de acolhimento em todos os estados à espera de uma família, segundo dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA). O A VOZ DA CIDADE, abrindo este conteúdo com uma canção que fala de amor incondicional, do músico e compositor Frejat, vai contar as histórias de algumas famílias da região que hoje aguardam na fila do sonho, de terem seus filhos; outras, que compartilharão a experiência de já terem adotado.

Todos hoje são acompanhados pelo Grupo de Apoio à Adoção de Barra Mansa (GAABM), onde, segundo a presidente, Marcília Arantes, 15 casais/pessoas estão esperando a adoção. “Infertilidade virou sinônimo de fertilidade do coração. Muitos fazem tratamentos para engravidar, e vale a tentativa. Mas não podemos esquecer que temos uma outra via de maternidade/paternidade, que é a adoção”, lembra Marcília, dizendo que entre os casais que adotaram ou que estão aguardando, o GAABM tem pessoas hoje que adotaram quatro crianças da mesma família, casais homoafetivos, solteiros, que também estão em busca do sonho, entre outros.

Ela lembra também a importância de ser voluntário. “Para que todos entendam que o grupo não é só para quem quer adotar, ou já adotou. Mas também para voluntários que queiram nos acompanhar, levar nossa causa, participar das nossas campanhas. Temos o nosso cantinho da criança, temos música, palestras, compartilhamos nossas histórias e formamos uma família”, disse, lembrando que os encontros acontecem sempre no quarto sábado do mês, às 16 horas, no salão da Paróquia São Sebastião – Igreja Matriz (Rua Andrade Figueira, 326, Centro).

‘ESSE SONHO SEMPRE FOI NOSSO’

A primeira entrevistada que vai contar um pouco de sua história, tem 34 anos e mora no Ano Bom, em Barra Mansa. Ela conta que deu entrada no processo de adoção em março de 2015, quando ela, com seu falecido marido, fizeram vários exames para saber se podiam ter filhos. “Aí, nos deparamos com a notícia de que ele não podia e foi aí que resolvemos adotar”, contou a jovem, lembrando que desde os 12 anos sempre expressou a vontade de adotar uma criança. “Sempre tive esse sonho”, enfatizou.

Contudo, uma perda muito grande poderia mudar todo o rumo de sua história. “Independente de poder ser mãe ou não, no mesmo ano que demos entrada no processo, meu marido faleceu”, relatou.

Ela conta que mesmo com a perda e com o fato de poder gerar uma criança, ela não desistiu de adotar. “Esse sempre foi o nosso sonho”, afirmou, dizendo que pretende, ainda, dar o nome de seu marido à criança.

Questionada, ela disse que mesmo estando na fila de adoção, pretende um dia, ainda, ter também uma gravidez, mas tudo no seu tempo.

A FAMÍLIA CRESCEU

A segunda entrevistada dessa reportagem especial é Thaís de Oliveira Viana Pereira, de 37 anos, que é casada com Andreia Lima Ferreira, de 28. Elas moram em Porto Real e estão no processo de adoção de dois irmãos, que ficaram abrigados por cinco anos em uma instituição.

Thaís conta que sempre desejou ter filhos e compartilhava o desejo com a companheira, Andreia, que estão juntas há cinco anos, optando pela adoção. Elas então deram entrada no processo e a única observação do pedido, era adotar um grupo de irmãos (de dois a três crianças). Logo, por não ter restrições no perfil, elas receberam a confirmação de quatro meninos, todos irmãos. Em dezembro de 2017, eles foram morar com as duas e, a família, quase que de um dia para o outro, cresceu. “Mas depois de um ano conosco, os dois mais velhos (de 13 e 14 anos) tiveram que voltar por problemas muito sérios e, inclusive, pediram para ir”, disse Thaís, acrescentando que ainda hoje convivem com esta dor.

Ainda assim, elas continuaram com seus dois filhos (um fez nove anos recentemente e o outro faz dez anos, em maio), e a guarda pegaram em dezembro do mesmo ano. Contudo, a adoção continua em andamento, pois está acontecendo junto com a destituição dos dois.

Questionada sobre o que mudou em sua vida após a adoção, ela disse que foi tudo. “Eu tinha esse desejo desde a infância e tudo mudou completamente. Passamos por muitas dificuldades, pois eles estavam em uma família acolhedora que destruiu ainda mais o psicólogo deles”, lembrou, dizendo que o processo de habilitação para adoção demorou um ano e seis meses. “Conhecemos eles em junho de 2017 e ficamos em aproximação até dezembro do mesmo ano, quando vieram morar coma gente. Neste período pegávamos eles nos finais de semana, feriados e férias, até que eles vieram morar. Ainda assim, nosso telefone não parava de tocar, com nomes de outras crianças. Era duro dizer não”, lembrou.

Thaís lembra que criança dá trabalho e educar é muito difícil. “Quando a adoção é tardia, ainda é preciso reconstruir muita coisa. Eles aprendem tudo errado e têm isso como certo e normal. E aí vem o trabalho de mostrar que tudo aquilo que era normal, onde viviam, não é o certo”, ponderou, lembrando que é preciso muita paciência e amor, mas isso, as duas têm sobrando.

Casal está junto há quase 20 anos – Divulgação

Professor adota aluno e conta como a vida da família mudou

Outro casal entrevistado pelo A VOZ DA CIDADE foi Robson Miranda, de 40 anos, e Leandro Luís da Silva, de 43, juntos há quase 20 anos e moradores de Volta Redonda. Robson, que é professor de Matemática, conta que em 2012 assumiu a direção de uma escola em Porto Real e lá teve contato com várias crianças que residiam em casa de acolhimento (abrigo). “Sempre fui muito atencioso com meus alunos, os tratando com muito respeito e carinho. Passados alguns anos, um aluno me chamou muito atenção, em razão de seu comportamento triste e introspectivo”, disse.

Ele lembra que esse aluno chegou na escola em 2016 e ele tentou se fazer presente na vida dele, mas ele era muito arredio, não gostava de conversar. “Parecia que estava sempre a espera de alguém”, completou Robson, lembrando que nessa época, Leandro e ele já moravam juntos e já conversavam sobre a possibilidade de ter um filho. “Foi quando eu fui até o abrigo de Porto Real saber como eu poderia fazer para adotar aquele menino. A coordenadora da Casa, muito gentil por sinal, me orientou que eu procurasse o Fórum de Porto Real para buscar informações a respeito da habilitação do casal e como funcionaria o processo de adoção”, lembrou, dizendo que nesse meio tempo, eles, mesmos juntos há muitos anos, resolveram oficializar a união e casaram no civil.

Na mesma semana, eles juntaram todos os documentos necessários e abriram o processo de habilitação na Comarca de Porto Real. A habilitação demorou 15 meses, acontecendo em agosto de 2018. No mesmo ano, em meados de outubro, eles foram convocados a comparecer no Fórum para audiência com a Juíza. “Na audiência a grande surpresa. Imaginamos que iríamos poder visitar o ‘menino’ aos finais de semana e feriado, mas a juíza nos autorizou a levarmos para casa naquele mesmo dia. E sim, era o mesmo da escola”, contou o pai, acrescentando: “Graças a Deus, na comarca de Porto Real, não havia pretendentes para adoção tardia (chamamos de adoção tardia as crianças com mais de seis anos). Nosso menino tinha dez anos”, completou.

Robson conta que sua família está reunida desde a adoção, há cinco meses, “vivendo dias de amor, graça e descobertas. Nossa vida se encheu de alegria desde o momento em que nos conhecemos. Como diz uma música que fala de adoção: ‘Depois que te encontrei, uma estrela apareceu no meu teto. Meu coração se encheu de afeto. É como se abrisse um portão em nossas vidas’”, comparou, citando a canção ‘Portão’, de Lula Queiroga.

E o que mudou na sua vida com a chegada do seu filho? Ele explica. “Tudo. Tivemos que adequar uma rotina diária. Horário para dormir, horário pra estudar, horário de diversão. Foi uma mudança radical mais com sabor de amor. Nosso filho, todas as noites antes de dormir, nos chama para fazermos a agradecimento do dia, fazer a oração de boa noite e darmos o ‘beijo de amor’ (assim ele nomeou)”, disse, contando que a criança também se adaptou ao restante da família, como se já conhecesse todos, de forma muito afetuosa.

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