Família acusa Hospital de Porto Real de negligência médica

Por Cyntia Freitas

PORTO REAL

A monitora de ônibus escolar terceirizada, Osvaldina Aparecida da Rocha de Souza Cruz postou um vídeo nas redes sociais denunciando o Hospital Municipal São Francisco de Assis de negligência médica no atendimento de seu marido, o aposentado José Arlindo de Souza Cruz, 52 anos, ocorrido na segunda-feira, dia 16. O aposentado, que era cadeirante, morreu na tarde da última terça-feira, no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da unidade de saúde. Seu corpo foi enterrado, na última quarta-feira, no Cemitério Municipal.

Osvaldina contou que na noite de segunda-feira, seu marido José Arlindo sentiu dores abdominais e foi encaminhado para o hospital, onde após ser diagnosticado por uma médica de que estaria com gases foi liberado. Em casa, José Arlindo novamente passou mal e foi encaminhado para a unidade de saúde onde acabou falecendo no dia seguinte. “Na segunda-feira por volta das 19 horas levei meu esposo com fortes dores abdominal no Hospital São Francisco de Assis. Chegando lá, a médica de plantão não quis colocar a mão no meu marido. Ela olhou e falou para a enfermeira colocar um soro no escalpe, que já tinha sido colocado pelos socorristas do Samu que o levaram na ambulância até o hospital, e mandou em seguida aplicar um medicamento para passar a dor. Falei com a médica que meu esposo estava enfartando e pedi pelo amor de Deus que fizesse eletrocardiograma e raios-X do tórax. A médica disse que meu marido contou que estava cinco dias sem evacuar e o que ele estava tendo era prisão de ventre. Respondi que essa dor abdominal seria infarto porque eu já enfartei. Ela disse que a médica do hospital seria ela e deixou meu marido tomando soro. Meu marido fez tanta força e acabou evacuando e como acabou o soro, a médica deu alta para ele. Perguntei novamente se não ia fazer os exames. Ela pediu uma ambulância e deu alta para José Arlindo”, contou a monitora. Osvaldina ainda explicou que José Arlindo sentiu mal à noite. “Em casa meu marido não dormiu a noite inteira sentindo dores. Na manhã de terça-feira, já sem saber o que fazer, olhei para ele quando percebi que havia evacuado novamente e estava com uma mancha roxa na barriga imensa como se tivesse queimado com ferro elétrico e a mão também estava da mesma cor. José Arlindo já começava a desfalecer. Chamei a ambulância da Central de Ambulância e como demoraram, consegui atendimento com o Samu que prontamente o buscou e o levou novamente para o Hospital. A médica ainda disse o que meu marido estava fazendo em casa e que teria que ficar internado. Seguimos para o hospital e no caminho meu marido foi entubando”, relatou a monitora que informando que José Arlindo já foi logo indo para a Sala Vermelha. “Depois de algumas horas que estava sentada lá fora, uma médica me chamou em uma sala e disse que meu esposo ficaria internado no CTI ou na enfermaria, mas que para casa não ia voltar. Perguntei como ele estava. A médica disse que estava fazendo todos os procedimentos cabíveis e que não poderia me passar uma informação. Por volta das 16 horas, levaram ele para o CTI onde acabou morrendo. No atestado de óbito dele informa que teve choque séptico, suboclusão intestinal, insuficiência hepática e insuficiência renal”, explicou.

José Arlindo passou mal em casa na segunda-feira, foi atendido no Hospital, diagnosticado com gases e faleceu na terça-feira no CTI da unidade de saúde-Álbum de Família

Para Osvaldina o atendimento médico da unidade de saúde e da médica de plantão teria sido negligente. “Depois de tudo que passei resolvi gravar um vídeo e colocar na internet para que as pessoas saibam o que está acontecendo em Porto Real. Infelizmente a Saúde de Porto Real está deste jeito. Passei por este sofrimento todo com meu marido. Não quero dinheiro, porque não vai trazer a vida dele de volta. Quero Justiça e cobrar das autoridades o que aconteceu com José Arlindo. Foi negligencia médica sim. Em nenhum momento a médica plantonista autorizou fazer a lavagem intestinal, o raio-x do abdômen e o exame de eletrocardiograma. Creio que desde a noite de segunda-feira meu marido rompeu o intestino porque a barriga estava muito inchada, roxa e dilatada”, desabafou a monitora que também teme o fato de perder o emprego na prefeitura. “Além de tudo o que passei, ainda corro o risco de ser mandada embora porque em Porto Real quem denuncia alguma coisa sendo concursado ou terceirizado é mandado embora. As pessoas precisam ter coragem de denunciar mesmo correndo o risco de ficar desempregada”, disparou.

SECRETARIA DE SAÚDE DESIGNA SINDICÂNCIA

Em nota enviada a imprensa, a Prefeitura informa que a sindicância que vai apurar as circunstâncias do atendimento do morador José Arlindo de Souza Cruz, que veio a falecer no último dia 17, no Hospital Municipal São Francisco de Assis, em Porto Real, foi designada nesta quinta-feira e terá prazo de 30 dias para apresentar o relatório final. “A apuração será feita por uma comissão interna com a devida qualificação. Todos os servidores que participaram do atendimento serão ouvidos e a comissão analisará os prontuários do caso. Ao final um relatório será expedido e as providências encaminhadas”, resume o médico Luiz Fernando Curty Jardim, secretário Municipal de Saúde, que garante total isenção na sindicância.

Médico concursado de Porto Real, Dr. Luiz Fernando reforça que o município não fará pré-julgamentos sem uma análise detalhada dos fatos. “Os profissionais de saúde, como todos os outros profissionais, são avaliados. Para tomar a decisão mais justa, é preciso conhecer os argumentos de todos os envolvidos”, reforça. O secretário, que já viveu a experiência de atuar em um pronto socorro, entende que este processo de avaliação dos procedimentos precisa ser rotineiro para que o atendimento seja sempre aperfeiçoado.

“Estamos trabalhando diariamente para melhorar o Hospital, reformando o espaço físico, adquirindo novos equipamentos, ambulâncias, melhorando nossas rotinas e realizando capacitações internas para os profissionais”, enumera o secretário de Saúde. Ele lembra ainda que o quadro médico é composto por profissionais concursados e contratados por tempo determinado através de processo seletivo, acompanhado pelo Ministério Público.

Como profissional de saúde, com mais de 20 anos de experiência, Dr. Luiz Fernando acredita que o exercício da medicina é uma atividade muito difícil porque lida com o ser humano em seus momentos mais difíceis. “Também tenho minha família e sei o quanto é duro perder um ente querido. Por isso, entendo a dor da família do José Arlindo. Mas é preciso levar em conta também que a imensa maioria dos atendimentos realizados no Hospital Municipal todos os dias terminam com um final feliz para pacientes, familiares e profissionais, mas estes casos dificilmente vem a público”, argumenta.

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