SUL FLUMINENSE
A má qualidade da educação básica é o principal obstáculo enfrentado pelas empresas que investem em ações de formação da mão de obra. Cinco em cada dez indústrias enfrenta a falta de trabalhador qualificado, segundo a Sondagem Especial – Falta de Trabalhador Qualificado, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), abrangendo 1.946 indústrias de todo o país.
De acordo com a CNI, a falta de trabalhadores qualificados deve se agravar à medida que aumentar o ritmo de expansão da economia e se tornará um dos principais obstáculos ao crescimento da produtividade e da competitividade do país. A CNI considera fundamental, a curto e médio prazo, qualificar e requalificar a força de trabalho, além de em longo prazo, ser preciso melhorar a educação básica e a profissional.
Na visão do gestor de Recursos Humanos Paulo Honório Samuel, é comum empresas do Sul Fluminense enfrentarem o desafio de preencher vagas por falta de qualificação da mão de obra. “O profissional especializado está cada vez mais escasso, a indústria regional sofre com isso e nos nossos processos seletivos percebemos como muitos candidatos não estão aptos ao mercado. É preciso conhecimento técnico, especialização, enfim. Numa seleção de 50 vagas tendo 100 candidatos, talvez consigamos encaixar uns 20 apenas por falta de qualificação”, comenta.
No suporte para qualificação cursos de nível médio e técnico, além de especializações, são importantes, como aponta a administradora Isadora Paiva. “O trabalhador não pode se acomodar, o conhecimento deve ser constante, sempre atualizado. A indústria requer profissionais habilitados, na nossa região temos o setor metalmecânico, a siderurgia e tantos outros setores com cursos em instituições como Senai. É preciso investir e evitar a zona de conforto”, frisa.
PRODUÇÃO
Segundo a CNI, a falta de mão de obra qualificada atinge todas as áreas das empresas, sendo maior na área de produção – 96% alegam dificuldade para contratar operadores e 90% para ter operador de nível técnico. Também há falta de profissionais qualificados para as áreas de vendas e marketing (82%), administrativa (81%), engenharia (77%), gerencial (75%) e pesquisa e desenvolvimento (74%). Na avaliação dos industriais, a falta de trabalhador qualificado prejudica 97% das empresas que enfrentam o problema. “Os maiores impactos recaem sobre a produtividade da empresa e qualidade do produto. Ou seja, o problema afeta diretamente a competitividade da indústria brasileira”, alerta a pesquisa.
No estudo, a CNI destaca que a quarta revolução industrial está promovendo mudanças significativas nas competências dos trabalhadores. “Diante deste desafio, a educação básica precisa dar ênfase nas áreas de STEAM (ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática) e fomentar a interdisciplinaridade, a resolução de problemas e o desenvolvimento de habilidades para a tomada de decisões”, recomenda a CNI.
TREINAMENTO DE TRABALHADOR
A pesquisa mostra ainda que as empresas procuram capacitar os trabalhadores. Mais de nove em cada dez empresas que relatam a falta de mão de obra qualificada têm políticas e ações para lidar com o problema. Entre as ações, se destacam, em primeiro lugar, a qualificação na própria empresa, com 85% das respostas. Em seguida, com 42% das menções, aparece a capacitação fora da empresa (cursos externos) e, em terceiro lugar, com 28% das citações, o fortalecimento da política de retenção do trabalhador.
Embora concordem que as empresas precisam investir em qualificação dos trabalhadores, 88% dos empresários dizem que enfrentam dificuldades para fazer investimentos em formação da mão de obra. Para esse grupo, o principal obstáculo, com 53% das citações, é a má qualidade da educação básica. “O Brasil paga caro por ter focado em um ensino médio generalista voltado para o ingresso nos cursos superiores. Cerca de 2 a cada 10 estudantes que concluem o ensino médio alcançam a educação superior. O restante dos estudantes, incluindo aqueles que abandonaram o ensino médio por falta de perspectivas, entra no mercado de trabalho sem preparo, sem uma profissão”, observa a CNI.
O estudo lembra que, no Brasil, apenas 9,7% das matrículas do ensino médio são em cursos de educação profissional. Na Alemanha, na Dinamarca, na França e em Portugal esse percentual é superior a 40% e alcança cerca de 70% na Áustria e na Finlândia.