Fake news, a onda de compartilhar sem checagem necessária   

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SUL FLUMINENSE/BRASÍLIA

Nesse pleito eleitoral os ânimos estão bastante exaltados, seja em discussões pessoais ou virtuais. Mas é na internet, que muitos dizem ser “terra sem lei”, que as coisas perdem o controle e uma determinada notícia pode se espalhar tão rapidamente que chega a virar verdade. As notícias falsas, as chamadas fake news, já entraram tão profundamente no dialeto do brasileiro, que todos sabem o que significam, mas a maioria não para e checa a informação antes de compartilhar.

As fakes news entraram na agenda do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde que o pleito deste ano começou a ser organizado. E não é para menos. Foi só começar e uma enxurrada de notícias falsas pode ser vista. E neste segundo turno não está sendo diferente. Tanto que na noite de hoje o assunto foi tema de reunião entre a presidente do TSE, ministra Rosa Weber e os coordenadores das campanhas dos candidatos a presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Eles já assinaram um acordo contra as notícias falsas e o objetivo foi tentar um pacto entre os dois candidatos para evitar a disseminação de fake news.

Integrantes do Conselho Consultivo do TSE decidiram sugerir medidas duras contra o WhatsApp depois de chegarem à conclusão de que o aplicativo foi o meio mais usado para a difusão de mentiras e montagens prejudicando candidatos no primeiro turno.

E as fakes news estão tão disseminadas como verdades que diariamente, seja no WhatsApp ou em outra rede social, como Facebook ou Instagram, é possível identificar muitas delas. Somente neste segundo turno, depois do dia 7, as redes de checagens de Fakes na internet se revezam com #éfake em notícia envolvendo Haddad e Bolsonaro.

Foram mensagens falsas dizendo que 7,2 milhões de votos foram anulados pelas urnas no primeiro turno, sugerindo possível fraude nas urnas; uma postagem que relaciona o candidato Haddad a um suposto projeto de lei que legalizaria a pedofilia (o cartaz é na verdade uma proposta para o Novo Código Penal que não faz menção a legalização da pedofilia e não tem relação com a campanha do petista); um áudio que fala de um plano bomba de Bolsonaro discutido na Fundação Getúlio Vargas (FGV) – isso nunca ocorreu na instituição; uma foto que mostra os muros da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) pichado com frase racista e símbolo nazista – fato ocorreu em 2010; uma montagem em que a vice de Haddad, Manuela D’Ávila diz que acabará com os feriados católicos no Brasil.

COMO IDENTIFICAR FAKES NEWS

Especialistas no assunto indicam que a indústria de notícias falsas e de produção de boatos com fins eleitorais podem virar um problema no país se um mínimo de controle não for criado. O fundador de uma empresa de marketing digital de Volta Redonda, Paulo Victor Ribeiro, diz que é preciso um trabalho pesado de investigação. “Tudo que é feito na internet gera registro. Por mais que a pessoa entre no computador e depois apague o Facebook, por exemplo, tem o registro do que foi feito. Se acionado juridicamente pode ser quebrado o sigilo e o autor identificado. O que se fala é que existe uma lista enorme de pessoas que espalharam notícias falsas que serão presas”, disse, frisando que a internet ao contrário do que se pensa não é terra de ninguém e em tudo é possível identificar a fonte de origem.

Para Paulo Victor, a internet precisa ser levada em consideração assim como acontece com nossa vida social. “Tem que ter um CPF para entrar na rede social. Se eu me sentir lesado tenho acesso a essa pessoa e saber quem devo denunciar”, disse.

DICAS

Paulo Victor dá dicas de como identificar uma notícia falsa. A primeira coisa seria checar a fonte da informação. Procurar algo que fuja da normalidade. Segundo ele, geralmente nas fakes news existem erros de português. “É importante ainda observar a plataforma que ela foi usada, evitar sites que são conhecidos por serem sensacionalistas, além de ler. As pessoas não leem a matéria completa. É colocada uma chamada agressiva e interessante e todos saem compartilhando sem olhar tudo”, apontou.

Ele ainda lembrou que as fakes news vem de sites que são similares aos já conhecidos. Por exemplo, www.olgobojornal.com.br não existe, mas as pessoas não se atentam a isso e acham que partiu do Jornal O Globo. Outra forma para identificar notícias falsas seria procurar pelo mesmo assunto no Google. Se nada mais aparecer é porque não existe. “As pessoas não conferem. Tenho a sensação que isso é cultural. As pessoas estão discutindo política de forma superficial como sempre fizeram. Hoje com o Facebook foi aberto um espaço para que qualquer leitor se torne crítico e como as fakes estão dominando o mercado elas acabam se espalhando porque as pessoas não leem”, falou.

LEVANTAMENTO DIVULGADO

Foi divulgado  um levantamento realizado pelos professores Pablo Ortellado (USP), Fabrício Benvenuto (UFMG) e pela agência de checagem de fatos Lupa.  Em 357 grupos de WhatsApp encontrou entre as imagens mais compartilhadas apenas 8% podendo ser classificadas como verdadeiras. O estudo buscou analisar o fenômeno da desinformação e das mensagens falsas em grupos na plataforma, que vem sendo apontada como principal espaço de disseminação desse tipo de conteúdo.

Foram analisados conteúdos enviados entre os dias 16 de setembro a 7 de outubro, em boa parte do primeiro turno das eleições. A amostra trouxe 347 grupos monitorados pelo projeto Eleição sem Fake, da UFMG. Os resultados, portanto, não podem ser generalizados. Mas trazem indícios importantes para a compreensão deste fenômeno. Ao todo, eles reuniram mais de 18 mil usuários. No período, circularam 846 mil mensagens, entre textos, vídeos, imagens e links externos.

Os autores divulgaram propostas em artigos e em documento ao WhatsApp solicitando a redução da possibilidade de encaminhamento de mensagens para, no máximo, cinco destinatários. Hoje, este limite é de até 20 pessoas ou grupos. Segundo o professor da USP Pablo Ortellado, o WhatsApp respondeu que tal medida seria inviável. Eles discordam, pois na India, por exemplo, após uma série de linchamentos causados por boatos difundidos no aplicativo foram implementadas mudanças em poucos dias. “Nossa situação é bastante grave. Estamos conclamando também o TSE e outras instituições com poder regulatório para agir”, escreveu Ortellado, em texto em sua rede oficial sobre o relatório.

 

 

 

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