Ex-secretário estadual de Educação fala sobre o desafio na educação na pós-pandemia de Covid-19

Por Carol Macedo

ESTADO

O desempenho escolar na rede pública e privada após a pandemia é uma preocupação de pais e educadores. Recentemente, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), divulgou dados sobre a qualidade e a desigualdade educacionais. Segundo a pesquisa, em todo o Brasil nove em cada dez escolas (90,1%) não retornaram ao ensino presencial no ano passado. No ensino privado 70,9% das escolas ficaram fechadas em 2020, sendo que na rede pública o percentual é maior –  98,4% das instituições federais, 97,5% das municipais e 85,9% das estaduais.

Comte Bittencourt é professor, foi deputado estadual por quatro mandatos consecutivos, presidiu a Comissão de Educação da Alerj, sendo autor de mais de 30 leis sobre o tema. É ainda ex-secretário estadual de Educação. Em entrevista, ele avalia ambos os sistemas pós-pandemia. “A realidade é desafiadora para qualquer homem público que pense no futuro do Brasil. Sem dúvida, as dificuldades em relação à universalização da educação ficaram ainda mais evidentes com a pandemia, que acentuou a diferença de oportunidades entre os estudantes. Mas, no mundo todo, a educação é um desafio pós-pandemia. A tecnologia aliada ao ambiente escolar hoje é imprescindível e o grande desafio para corrigir distorções e potencializar o interesse e o aprendizado dos alunos”, disse.

E ao falar de tecnologia, Comte destaca essa desigualdade nas escolas urbanas. Segundo ele, ao analisar o recente estudo do INEP é possível concluir que o ensino remoto ampliou diferenças regionais entre o centro urbano e o interior. As crianças do interior foram mais impactadas. Ele lembrou ainda, que segundo a mesma pesquisa, nacionalmente, cerca de dois milhões de alunos de escolas rurais passaram 2020 em casa e sem acesso à internet. Porém, mesmo assim, o ex-secretário estadual de Educação lembra que em função do vínculo forte entre escola e comunidade no interior, nesses locais há uma melhor qualidade do ensino público. “Mas é preciso dizer que os municípios distantes das regiões metropolitanas enfrentam maior dificuldade na formação continuada de seus profissionais, muito em função da falta de investimentos para esta finalidade. No meu período à frente da Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), realizamos o Programa Rio + Alfabetizado, que custeou curso de especialização para professores alfabetizadores de todos os municípios fluminenses. Através do letramento, vamos melhorar o percurso inteiro do aluno”, lembrou.

Comte ficou como secretário de Estado de Educação de setembro de 2020 até junho de 2021 – oito meses. Ele destacou algumas ações realizadas por ele. Citou que buscou enfrentar a desigualdade educacional na pandemia. A principal meta foi a implantação do ensino híbrido, presencial e à distância durante a pandemia. Ele lembrou que a grande maioria dos estudantes da rede pública estadual não tem acesso à internet de qualidade sem limites de dados. Por isso, negociaram com operadoras de telefonia e ofereceram um link patrocinado, conectividade gratuita garantida para acessar os conteúdos educacionais desenvolvidos pela Seeduc. Além disso, trabalharam em um aplicativo próprio desenvolvido pelos servidores, o Aplique-se.

O ex-secretário de Estado também contou que a realidade era difícil para profissionais da educação. “Além de conexão garantida e conteúdo adequado, criamos condições para que os próprios profissionais de ensino pudessem investir em tecnologia e participar ativamente deste novo desafio pedagógico. Após uma longa negociação, conseguimos viabilizar junto ao governo do Estado o investimento de R$ 72 milhões para o pagamento do “auxílio tecnológico”, um benefício para 48 mil profissionais da rede estadual de ensino público, que receberam, em cota única, o valor de R$1,5 mil, através de folha suplementar de junho”, contou.

Agora, após sua experiência no Executivo, Comte Bittencourt avalia que há escolas públicas tão boas como as particulares, assim como grandes profissionais e recursos constitucionais garantidos. Para ele, com um bom planejamento de médio prazo e uma gestão eficiente é possível fazer com que a escola pública não fique devendo em qualidade para uma particular. “O planejamento deve ser feito para além do período de um mandato, pois todos sabemos que em quatro anos é impossível reverter a atual situação. É urgente encararmos a educação como política de Estado, não de Governo. Essa pasta merece ser blindada contra interesses eleitoreiros”, conclui.

 

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