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O ex-secretário de Estado de Saúde, Dr. Fernando Ferry, afirmou que pediu exoneração da pasta para se preservar juridicamente. Ferry assumiu o cargo após a exoneração de Edmar Santos, no fim de maio, e pediu para deixar o cargo na última segunda-feira (22/06). A explicação foi dada às comissões de Saúde e Especial de Fiscalização dos Gastos na Saúde Pública Durante o Combate do Coronavírus da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), nesta quinta-feira (25/06), durante audiência pública virtual.
“Eu não senti segurança diante de todas essas complicações de continuar à frente da pasta. Tudo isso cairia sobre o meu CPF. Eu teria que responder por um processo que não fiz parte. Além disso, hoje a gente esbarra num problema da falta de equipamentos, de respiradores, de remédio. Eu vi que o poço é muito mais fundo do que pensava”, justificou Ferry.
Ele também frisou que está passando por momentos pessoais delicados e que não tinha pretensões políticas com o cargo. “A única coisa que eu queria era trabalhar como gestor, mas isso só será possível quando todos se unirem para fazer um trabalho sério e independente. Não aguento essa pressão toda. Não conseguir pagar as pessoas também me deixava extremamente abalado e pesou muito na minha decisão”, declarou o ex-secretário.
Verba em caixa
Apesar do cenário apresentado, Ferry lembrou que não faltam recursos em caixa na Secretaria de Saúde. “Quando assumi tínhamos cerca de R$ 330 milhões em caixa. Desse valor, R$ 168 milhões já estavam comprometidos com empenho e pagamentos de contratos, mas ainda sobraria R$ 155 milhões para gerir. Isso era suficiente para resolver os problemas da pasta, mas faltava transparência e independência para trabalhar “, pontuou o ex-secretário.
Intervenção política
Questionado pelo relator da Comissão Especial de Saúde, deputado Renan Ferreirinha (PSB), se houve alguma intervenção política nos trabalhos, Ferry respondeu que não. “Em nenhum momento fui tolhido politicamente, mas eu fiquei com muito medo de sujar o meu CPF com processos que eu não fiz parte, principalmente após ler o relatório da Controladoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (CGE-RJ), que vou encaminhar para a comissão. A única maneira de tirar a Secretaria dessa lama é dando transparência total”, reiterou.
Ainda no assunto, a presidente da Comissão, deputada Martha Rocha (PDT), indagou Ferry sobre a presença do assessor do governador Felipe Pereira nas reuniões da secretaria. Martha informou que foi divulgado na imprensa que Felipe estava elaborando um plano que dividia novamente a saúde em duas.
“Felipe participava de reuniões curtas da SES com o governador. Eu não me sentia constrangido porque ele nunca interferia, ele só ouvia as colocações. Quanto ao burburinho da divisão da secretaria eu também nunca soube de nada”, alegou o ex-secretário.
O deputado Luiz Paulo (PSDB) perguntou se contratação de serviço, emissão de faturas e pagamento das notas de empenho eram feitos por um mesmo setor na secretaria. O ex-secretário confirmou que os trâmites estavam sob a responsabilidade de uma mesma subsecretaria e que pretendia separar esses setores na reestruturação planejada, mas que não chegou a ser executada.
Hospitais de Campanha
Em relação aos hospitais de campanha, Ferry disse que já foi gasto um valor alto na construção dos espaços e que a decisão de concluir as obras ou interrompe-las deve ser tomada por um colegiado. “É uma decisão extremamente difícil. Talvez transformar esses espaços em enfermarias seja algo mais viável e com um custo mais baixo, mas é preciso conversar isso também com os conselhos e sindicatos. Tomar essa decisão com um colegiado é fundamental. Mas cabe ao novo secretário decidir o que fazer agora”, concluiu Ferry.
A deputada Martha Rocha questionou o fato de os preços dos insumos da Fundação de Saúde serem sempre maiores que outros órgãos do estado. O ex-secretário afirmou que os preços subiram até 5.000% durante a pandemia. Mas criticou a falta de planejamento.
“Infelizmente, dentro do processo de compras do serviço público não há uma centralização (das compras). O ideal é que houvesse unificação de tudo. Eu achei que poderia fazer isso”, disse.
Luiz Paulo também perguntou se foi Ferry que rompeu o contrato com a organização social Iabas, responsável pela construção de alguns dos hospitais de campanha. Ferry disse que o contrato já tinha terminado quando assumiu. “São dois contratos distintos. Um deles do hospital Adão Pereira Nunes, que a Fundação de Saúde estava ser reestruturando as pressas para assumir. Não fui eu que rompi. O contrato que acabou. Havia possibilidade de renovação emergencial, mas não quis fazer nada com o Iabas”, disse Ferry.
Também estiveram presentes os deputados Luiz Paulo (PSDB), Jair Bittencourt (PP), Pedro Ricardo (PSL), Marcelo Cabeleireiro (DC) , Enfermeira Rejane (PCdoB) e Mônica Francisco (PSol).