Estudante de Barra Mansa cria blog para combater preconceito e ajudar deficientes

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BARRA MANSA

Buscando quebrar tabus e ajudar no combate ao preconceito, a estudante Thamires Gregório Emiliano, de 23 anos, criou um blog, o ‘Diário de uma Inclusão’. Na página, a moradora de Barra Mansa, que é deficiente física e sofre também com problemas de visão, conta histórias de sua vida pessoal e relata desafios de outras pessoas com necessidades especiais. Para falar sobre a iniciativa e conhecer um pouco da história de Thamires, o A VOZ DA CIDADE conversou com a estudante do segundo ano do ensino médio durante o intervalo de uma de suas aulas no Colégio Estadual Barão de Aiuruoca, em Barra Mansa.

Na apresentação do blog, a jovem diz que a página surgiu para ajudar as pessoas a entenderem um pouco do mundo dos que possuem alguma deficiência. Ao falar sobre como surgiu à iniciativa, Thamires revelou que sempre gostou de escrever e que passou a usar a página para quebrar tabus e preconceitos que existem com as pessoas que possuem alguma síndrome ou deficiência. “Eu pensei: ‘Gosto de escrever, por que não fazer algo para ajudar? ’. Porque hoje você vê que os deficientes físicos não têm a devida atenção. As pessoas precisam olhar os deficientes com mais cuidado, ter uma visão com mais carinho”, opinou.

No blog, Thamires diz que nasceu “normal”, entre aspas mesmo, porque segundo ela ninguém nasce perfeito e todos têm suas dificuldades. “Não existem pessoas perfeitas. Eu tenho um desvio na visão desde pequena e sofro com obesidade mórbida, que já é algo genético, e minha tíbia é torta. No meu desenvolvimento acabei tendo problemas no joelho e conforme eu ia engordando minhas pernas iam se arqueando, me trazendo muitos outros problemas”, relatou Thamires, que passou por cirurgias para tentar corrigir o problema na tíbia e joelhos, mas que pela dificuldade em andar, usa muletas para se locomover.

Criada pela avó e hoje morando com uma tia e mais quatro primos, Thamires disse que seu primeiro desafio foi vencer o preconceito dentro de casa e depois na escola. “Minha mãe não teve condições psicológicas e nem formação para ficar comigo, por eu ser deficiente física. Ela não é uma pessoa cruel ou ruim, só o jeito de amar dela que era diferente, mas sempre tive contato com ela e com meu pai também, pois os dois moram no mesmo bairro que eu, a Cotiara. Tive muitos problemas com a aceitação das escolas e das pessoas. Minha avó mesmo foi uma delas que não aceitou que eu tinha uma deficiência. No colégio riam muito de mim, me olhavam diferente, as meninas costumavam falar mal”, revelou Thamires destacando que a ideia de criar o diário virtual é para ajudar professores, alunos, pais e as pessoas fora do âmbito escolar a entenderem e a incluírem os deficientes na sociedade.

QUANDO O PRECONCEITO FERE

A estudante disse ainda que o bullying praticado por colegas de sua antiga escola aliado às dificuldades motoras a desmotivavam a permanecer estudando e por muitas vezes deixou de frequentar as salas de aula. “Já fiquei semanas sem ir às aulas. Ficava bastante chateada. Mudei de escola e aqui no Barão eu não passo mais por isso. Todo mundo me respeita e me ajuda muito aqui; os professores, os meus colegas de turma”, disse ela que vai à escola em uma van adaptada cedida pela prefeitura.

Pelos problemas de visão, Thamires precisa de material de estudo ampliado e hoje, além das aulas regulares, é acompanhada no contraturno escolar pelo Núcleo de Apoio Pedagógico (NAP), uma modalidade de educação escolar oferecida pelo Governo do Estado para alunos portadores de necessidades especiais. Ela lembrou a importância que esse trabalho tem em seu rendimento escolar. “Antes eu não sabia nada, não entendia nada da matéria, mesmo assim eu passei de ano. E não achei justo, porque eu quero aprender e não só passar de ano”, disse ela que foi submetida a uma adaptação curricular antes de ingressar no segundo ano do ensino médio.

A professora da Sala de Recursos do Colégio Estadual Barão de Aiuruoca, a Educação Especial, Solange Gomes, elogiou Thamires dizendo que ela é uma aluna cheia de potencial. “A Thamires é participativa, dinâmica, criativa, busca sempre a perfeição. É uma excelente aluna. A gente percebe essa facilidade dela para escrita, então ela tem tudo para ser muito bem sucedida”, afirmou Solange.

EXEMPLO DE SUPERAÇÃO

Mesmo com o pouco tempo de blog, pouco mais de dois meses, Thamires disse que já teve feedbacks positivos, inclusive com pessoas dizendo se identificar com a situação dela. Até esta segunda-feira, dia 25, o “Diário de uma Inclusão” contava com mais de 2,5 mil visualizações. “Fico muito feliz de poder ajudar, me parabenizam pelo blog. O recado que deixo para as pessoas é não desistir de seus objetivos, porque senão não vamos para frente”, disse, completando: “Quero que as pessoas tenham um olhar mais carinho para os deficientes; não é só olhar, mas oferecer ajuda. Por exemplo, na hora de atravessar a rua dizer: ‘Oi, você precisa de ajuda?’ Essa é a forma ideal. Não é porque somos deficientes físicos, visuais ou tenhamos outras síndromes é que não podemos ser tratados  iguais ou que não podemos viver em sociedade como qualquer outra pessoa que fala, anda ou enxerga”, garantiu.

Thamires contou que costuma escrever os textos do blog usando o celular, mas que pelo problema de visão dela, essa não é uma das tarefas mais fáceis e quer comprar um computado pessoal. Questionada sobre o que vislumbra para o futuro, se havia interesse em se tornar uma escritora ou até produzir um livro, a jovem desconversou e disse que ainda não pensar nisso e por enquanto tem se dedicado à formação escolar após tantas dificuldades.

O “Diário de uma Inclusão” pode ser visitado através do link: https://bit.ly/2Iqv8mo.

 

 

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