Em apenas dois dias cerca de 80 pessoas ficaram desalojadas em Barra Mansa

Por Lara Salles

BARRA MANSA

Desespero. Essa é a palavra que resume o sentimento e a angústia daqueles que precisam deixar tudo o que tem e ir embora. De sexta-feira, dia 10, até a madrugada de segunda, 13, cerca de 80 pessoas ficaram desalojadas. Foram horas de chuvas intensas que terminaram em 135 ocorrências, dentre elas, 12 desabamentos de casas e 30 interdições de imóveis.

O fotógrafo André Sodré é uma dessas pessoas que precisaram sair de casa. Ele relatou ao jornal o sentimento de deixar não só o seu lar, mas também o seu local de trabalho. “Toda a minha identidade e memória física estão naquele lugar, são 40 anos de trabalho. Coisas que vão além do valor material e que formam quem eu sou”, disse.

Foto: Gabriel Borges

Assim como ele, a mãe de Francimara Rodrigues também teve a casa interditada e agora precisa tentar reconstruir aquilo que perdeu. “Minha mãe foi obrigada a largar tudo o que ela conhecia de referência como casa. Hoje eu vejo a tristeza nos olhos dela. Por mais que a gente tente deixar ela o mais confortável possível com coisas até melhores do que ela tinha na casa antiga, ela não consegue ficar feliz porque aquilo que tinha de referência de lar ela perdeu. A casa onde criou os filhos e onde recebia os netos está a ponto de ir embora junto com todas as lembranças que ela construiu nesse lar. Minha mãe tem 72 anos e não consegue muito falar de como é isso, ela só consegue demonstrar que está triste”, comentou.

Antônio Ferreira, também de 72 anos, teve a casa interditada na última sexta-feira, dia 10, mas apesar de todos os riscos, optou por continuar no imóvel. “Eu não tenho como sair. Tenho medo, mas não posso deixar isso aqui, é tudo o que tenho. Então ficamos só eu e Deus”, lamentou.

Foto: Gabriel Borges

O medo causado por essas tragédias naturais impacta a todos, principalmente aqueles que não tem para onde ir. Cleria Ribeiro, de 68 anos, mora no bairro Nova Esperança, um dos mais afetados pela chuva, e contou que quando começa a chover os moradores, entre eles crianças e idosos, deixam as casas apenas com a roupa do corpo e vão para outra rua esperar que tudo passe. “É a única coisa que podemos fazer. Não temos para onde ir. É muito difícil deixar sua casa e não saber se vai conseguir voltar para ela”, relatou.

Na madrugada de sábado, dia 11, uma idosa, de 73 anos, ficou ferida após uma casa desabar na Rua Florianópolis, também no Nova Esperança. No momento do acidente ela estava sozinha no imóvel e foi retirada dos escombros pelos próprios moradores. A idosa sofreu ferimentos moderados e foi levada pelo Corpo de Bombeiros para Santa Casa, onde continua internada.

Jandir Martins, de 60 anos, mora ao lado da casa que desabou e presenciou toda cena. “Eu estava dormindo quando de repente acordei com o barulho. Na mesma hora sai correndo de casa. Foi horrível, tudo tremia, eu passei mal e achei que também perderia tudo”, contou.

Foto: Gabriel Borges

Jandir disse que a casa que desabou está com todos os pertences da idosa e que vândalos estariam furtando os bens materiais que ainda restaram. “Depois que a casa desabou algumas pessoas entraram e pegaram até o motor da geladeira dela e por mais que a gente tente ajudar recolhendo algumas coisas e guardando, temos medo de tentar entrar na casa e algo acontecer”, falou.

MAIS DE 80 DESLIZAMENTOS DE TERRA SÃO REGISTRADOS E VISTORIAS SÃO REALIZADAS

Devido o temporal, foram registrados 85 deslizamentos de terra, 17 quedas de árvores, 12 alagamentos e enxurradas, dois destelhamentos, cinco vistorias técnicas e cinco transbordamentos ocasionados pelo trasbordo do Rio Barra Mansa e Bananal.

O levantamento realizado pela Defesa Civil mostra que foram contabilizados 245mm de chuva. Sendo 135mm na sexta-feira, 58 mm no sábado e 52 mm de domingo para segunda-feira.

Os bairros mais afetados foram: Nova Esperança, Apóstolo Paulo, Centro, Ano Bom, Vila Coringa, Vila Nova, Roberto Silveira, Verbo Divino, Cotiara, São Silvestre, Vila Independência, Siderlândia, Colônia Santo Antônio, São Sebastião, Boa Vista I e II, Minerlândia, 9 de Abril, Santa Rita da Dutra, Boa Sorte, São Luiz, Santa Clara e Piteiras.

Foto: Gabriel Borges

CERCA DE 454 FAMÍLIAS ATENDIDAS 

O A VOZ DA CIDADE conversou também com o secretário da Assistência Social e Direitos Humanos de Barra Mansa, Fanuel Fernando, que informou que apenas no sábado, dia 11, foram atendidos pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras), 454 adultos, 49 idosos e 92 crianças. “Fomos em mais de 400 casas, conversamos com os moradores, oferecemos o Aluguel Social e orientamos como dar entrada no processo para que eles possam receber esse benefício”, disse, acrescentando que só tem direito ao aluguel social os moradores que tiveram a casa interditada e não têm mais como voltar para o imóvel, ou aqueles que estão desabrigados.

O benefício é no valor de R$ 300. De quarta-feira, 8, até segunda-feira, 13, cerca de 38 pessoas deram entrada no processo para receber o valor. Em casos, como de Antônio, em que as famílias optam por não deixar o local de risco, a secretaria realiza um trabalho de conscientização do perigo e do apoio que vão receber por parte da Prefeitura.

Foto: Gabriel Borges

CIDADE ESTÁ ARRECADANDO DOAÇÕES

Ainda durante o final de semana o prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable, publicou um vídeo informando sobre os estragos causados pela chuva e pediu doações de garrafas de água, materiais de limpeza, alimentos não perecíveis e colchões.

Com todos os problemas causados pela tempestade os moradores e grupos de voluntários de Barra Mansa também estão se unindo através das redes sociais para conseguir arrecadas o máximo de doações possíveis.

As doações podem ser realizadas no Centro Estratégico De Segurança Pública, localizado na Avenida Joaquim Leite, nº 421, no Centro. Todo os produtos doados serão destinados aos moradores em situação de vulnerabilidade e podem ajudar a minimizar o sofrimento dessas pessoas.

Foto: Gabriel Borges

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