As crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) frequentemente enfrentam dificuldades de organização e problemas escolares, que são muitas vezes mal interpretados pelos pais. Muitos pais acabam vendo esses desafios como preguiça ou falha no tratamento. No entanto, uma análise neuropsicológica mostra que a raiz desses problemas é muito mais complexa e está ligada às funções executivas do cérebro.
Mas Marcele, o que são funções executivas?
Eu explico: As funções executivas são um conjunto de habilidades cognitivas essenciais para realizar tarefas diárias. Isso inclui:
– Planejamento: Criar um plano para realizar uma tarefa.
– Organização: Manter tudo em ordem para cumprir o plano.
– Controle de Impulsos: Evitar agir por impulso.
– Regulação Emocional: Controlar as emoções.
Em crianças com TDAH, essas funções estão prejudicadas devido a uma disfunção no córtex pré-frontal, a área do cérebro responsável por essas habilidades. Isso resulta em dificuldades para iniciar e completar tarefas, manter a atenção, seguir instruções e controlar comportamentos impulsivos.
Interpretações Equivocadas
Quando uma criança com TDAH tem dificuldades escolares, é comum que os pais interpretem isso como preguiça. Essa visão ignora a realidade neurobiológica do TDAH e pode levar a uma abordagem inadequada, resultando em críticas e punições que só aumentam a ansiedade e a frustração da criança. Isso cria um ciclo de fracasso escolar, baixa autoestima e comportamentos impulsivos.
Tratamentos e Expectativas
Os tratamentos para TDAH geralmente incluem medicação e intervenções comportamentais para melhorar as funções executivas e reduzir os sintomas. No entanto, esses tratamentos não são soluções mágicas e demandam tempo e ajustes contínuos. A eficácia pode variar de uma criança para outra, necessitando de uma abordagem multifacetada que inclua suporte escolar adequado e treinamento para os pais. É fundamental que a família siga as orientações dos profissionais e busque ajuda sempre que houver dúvidas ou dificuldades, principalmente com o manejo dentro de casa. Para que haja generalização de comportamentos, a família precisa ajustar o ambiente e a rotina.
Reconhecer que a disfunção executiva é uma característica central do transtorno pode ajudar a desenvolver estratégias de apoio mais eficazes, como:
– Implementar rotinas estruturadas.
– Usar listas de verificação.
– Dividir tarefas em etapas menores.
– Utilizar reforço positivo para incentivar comportamentos desejados.
– Compreender que as dificuldades escolares em crianças com TDAH não são uma questão de preguiça é fundamental. Pais e educadores devem fornecer o suporte necessário para ajudar essas crianças a alcançar seu pleno potencial acadêmico e emocional.
Marcele Campos – Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver – especializada em avaliação e tratamento de pessoas com Transtornos do Neurodesenvolvimento.