SUL FLUMINENSE
Dos desafios de uma sociedade preconceituosa até o reconhecimento de um presidente da República. Hoje, 27, data em que se comemora o Dia da Empregada Doméstica, o A VOZ DA CIDADE conversou com profissionais do Sul Fluminense que lutam há mais de três décadas pelos direitos no mercado de trabalho.
Uma das pioneiras nessa luta aqui no Sul Fluminense é Jorgina dos Santos, diretora e fundadora do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas da Região. Moradora de Volta Redonda há 68 anos, Jorgina atuou durante 30 anos na profissão. “Comecei a trabalhar como doméstica em 1977, na época tinha 17 anos. Meu pai trabalhava como ‘peão’ na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e minha mãe estava doente e não podia trabalhar. Foi então quando eu e meus irmãos nos juntamos e decidimos ajudar nossa família. Nesse tempo passei por muitas situações difíceis”, lembrou.
Em 1987, aos 26 anos, Jorgina entrou para Associação das Empregadas Domésticas e Lavadeiras, que ficava em Volta Redonda. “Sempre gostei muito de ler, escrever e escutar a rádio. Até que certo dia enquanto estava cozinhando ouvi na rádio que a associação estava convidando as mulheres para o encontro das domésticas. Lembro que fiquei muito feliz em saber que tinha alguém falando sobre a nossa profissão, que tinham pessoas como eu. Na época todos falavam de Sindicato da Educação e dos Metalúrgicos, mas nunca tinha ouvido falar de uma associação voltada para as domésticas. Foi lá que comecei a saber meus direitos e conhecer as leis trabalhistas”, relatou.
No dia 20 de setembro de 1992, Jorgina se tornou a primeira presidente e fundadora do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas da Região Sul Fluminense, onde atuou na função durante quatro anos e retornou para o cargo de diretora no ano passado. “Ter um sindicato é muito importante para que todos saibam os seus direitos e deveres. No dia a dia do sindicato vemos diversas questões que precisam ser mudadas, como por exemplo, clientes que colocam a funcionária com alguém da ‘família’ e acabam ferindo o direito da própria profissional. Apesar da aproximação entre a família e a empregada doméstica, ela ainda é uma profissional como qualquer outra”, disse, acrescentando as mudanças que aconteceram na profissão ao longo dos anos, como por exemplo a regulamentação da profissão em 1978 e a PEC das Domésticas em 2013.
ENCONTRO COM O PRESIDENTE
Em 2022 Jorgina foi uma das representantes dos sindicatos das domésticas que participaram da reunião com o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O evento para discutir as condições de trabalho da categoria aconteceu no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo. “Foi uma emoção muito grande poder ter esse contato com o presidente e realizar essa solicitação”, lembrou.
A Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) é formada por 22 sindicatos e mais uma associação. Ela representa uma categoria de aproximadamente, 7,2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras domésticas. As organizações filiadas à federação estão presentes em 13 Estados brasileiros.
DOMÉSTICAS NO PRÉ-VESTIBULAR
As trabalhadoras domésticas também buscam formação, fato registrado no Pré-Vestibular Cidadão (PVC), do Movimento Ética na Política (MEP), de Volta Redonda. Criado em abril de 2000, o PVC é um curso de educação popular para jovens e adultos com vulnerabilidade socioeconômica. A emprega doméstica, Maria Carmélia da Conceição, de 47 anos, participou do curso por dois anos. “Pude conhecer diversas mulheres e amigas que tiveram a oportunidade de entrar para uma faculdade e se formar. Depois ainda me tornei voluntária no pré-vestibular. Hoje sigo como doméstica, mas por opção”, contou, acrescentando que atua na profissão desde os 13 anos e que, o que antes era motivo de vergonha agora se tornou orgulho. “É um trabalho digno como qualquer outro e através dele consegui tudo que tenho. Comecei meu primeiro serviço trabalhando todo dia e ganhava meio salário, recebi isso até os 20 anos. Aos 25, conheci o sindicato e achei esclarecedor. Hoje em dia sinto que a minha profissão está começando a se igualar com a dos outros, porém, nem sempre foi assim”, apontou.
Izanete Silva passou pelo MEP em 2016. Chegou a conseguir uma vaga pelo Sisu para cursar Gestão de Negócios, mas não seguiu os estudos. Sobre ter participado do pré-vestibular disse que foi uma coisa muito importante em sua vida. “Aprendi muito e fiz amigos. Os professores são excelentes. Tenho muito a agradecer a todos pela oportunidade, não só para mim, mas para várias pessoas da minha família”, disse.