Delegado de Paraty fala sobre o processo migratório da violência para o interior

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Mônica Vieira

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O A VOZ DA CIDADE conversou com exclusividade com o delegado titular da 167ª Delegacia de Polícia, Uriel de Alcântara Machado. Durante a entrevista, o policial falou sobre os principais fatos que ocorreram em Paraty no ano de 2017 e citou o trabalho que foi, e está sendo realizado pela Polícia Civil, para combater a migração de criminosos para o Sul Fluminense e o crescimento do tráfico de drogas local.

Uriel disse que ao longo dos últimos anos ocorreu uma migração de criminosos para o interior, principalmente pelos conflitos armados entre facções na capital. No entanto, questionado se houve um aumento da criminalidade e do tráfico de drogas em Paraty, Alcântara disse que o tema é complexo, e citou ações da polícia que provam justamente o contrário, segundo ele. “Diversas prisões foram realizadas e uma grande investigação, que resultou na expedição de 60 mandados de prisão contra traficantes que integravam duas facções rivais, afetou diretamente aquelas estruturas criminosas”, avaliou, acrescentando: “Existem os que foram presos e os que ainda serão, pois estão foragidos. Enquanto isso precisam ficar escondidos, não são mais vistos andando tranquilamente pelas ruas”, disse, frisando que as prisões só ocorrem em flagrante ou em razão do cumprimento de um mandado.

Uriel explicou ainda qual é o perfil do indivíduo vinculado à facção criminosa em Paraty. Segundo o delegado, ele não ostenta armas e costumam atuar na venda de drogas de forma velada, a fim de evitar prisões em flagrante. “Era comum passar pelos bairros e ver vários integrantes do tráfico andando tranquilos, porque não estavam armados nem carregando drogas. Aqueles que ainda não foram presos, estão escondidos, muitos fora daqui. É evidente que o tráfico se regenera e se adapta, mas a Polícia Civil continua investigando constantemente, existem inquéritos policiais em andamento”, assegurou.

QUEDA NO NÚMERO DE HOMICÍDIOS

O policial frisou a queda de 18% no índice de homicídios em 2017, em comparação com o ano anterior. Foram 34 em 2016, contra 28 no ano passado, números do Instituto de Segurança Pública (ISP). Uriel disse que a maioria desses assassinatos está relacionada ao tráfico de entorpecentes e o conflito entre facções rivais, os quais a polícia já atua para prender seus autores. Ele aponta esse trabalho, que consiste na identificação dos integrantes das quadrilhas e consequentemente dos autores dos homicídios, como um dos motivos para a redução dos crimes violentos.

“Sem dúvida um dos fatores foram as conclusões exitosas de diversos inquéritos policiais, onde foram identificados e presos autores de homicídios e tentativas de homicídios, além, evidentemente, de investigações realizadas contra o tráfico de drogas, responsável direta ou indiretamente por mais de 90% dos casos”, disse o delegado.

Uriel divulgou um balanço no qual mostra que em 2017 a 167ª DP realizou 125 prisões, que tiveram origem em flagrantes e cumprimentos de mandados, representando 57% de todas as prisões realizadas no município. Um aumento de 320,5% das prisões da unidade se comparado aos números registrados em 2016.

Perguntado se os números demonstram o crescimento da violência em Paraty, o delegado disse que a violência que afeta a cidade não é diferente de outros municípios brasileiros, o que difere são as proporções. Ele lembrou crimes ocorridos no fim de novembro e início de dezembro que ganharam repercussão pela ousadia dos criminosos. Foram eles o assalto às Casas Bahia no Centro, onde um estudante de 16 anos morreu após ser atingido por uma bala perdida; a explosão de caixas eletrônicos na Vila Residencial de Mambucaba; e a morte de um policial militar, baleado na porta de uma boate. Outro PM também foi ferido no atentado.

“Consequentemente isso é reverberado intensamente na sociedade local, provocando questionamentos positivos ou negativos, dependendo de como ocorre. De todo modo, apesar da gravidade destes e de outros fatos, não podem ser analisados isoladamente, pois estão inseridos em um contexto”, comentou.

MULHERES E CRIANÇAS NO TRÁFICO

Alcântara lembrou que no início de dezembro a Polícia Civil realizou uma operação contra exploração sexual infantil e tráfico de drogas, onde cinco mulheres foram indiciadas por tráfico e uma também pelo favorecimento à prostituição infantil. Três estão presas e duas foragidas. “O que foi percebido após a operação realizada em agosto de 2017 para cumprimento de 60 mandados, foi um aumento significativo de menores envolvidos. Na operação, 53 mandados eram de prisão, ou seja, para maiores, e apenas sete mandados de busca e apreensão de adolescente, ou seja, para menores. As investigações hoje já demonstram um aumento de menores que ou ganharam espaço, ou passaram a integrar o tráfico de drogas recentemente”, revelou.

OPERAÇÕES E O APOIO DA POPULAÇÃO

Ao falar sobre as ações realizadas pela 167ª DP, Uriel disse que elas são realizadas constantemente com objetivo de realizar a captura de criminosos e cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça, mas com menor visibilidade e em menor proporção se comparado as grandes operações deflagradas. O policial finalizou destacando a importância que tem a contribuição popular nos inquéritos e investigações policiais.

“É importante que haja essa participação, precisamos dessa proximidade com a sociedade e é isso que pode fazer substancialmente a diferença. Não há necessidade de se identificar e nenhuma publicidade é dada, podendo ser enviada qualquer informação” afirmou Uriel, disponibilizando à população os telefones: (24) 98833-8167 (WhatsApp); (24) 3372-0088 e 3371-8484, além da Central de Atendimento ao Cidadão da Polícia Civil (CAC), com os telefones (21) 2334-8823 e 2334-8835.

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