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Debate sobre gênero e saúde sexual está mais restrito, alerta representante do Fundo de População da ONU

Por Andre
onu

NOVA IORQUE

Questões relacionadas a gênero, saúde reprodutiva e sexual estão no centro da carreira de Mónica Ferro, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Reino Unido, Espanha e Portugal. Ela alerta que o espaço público para discutir esses temas está se tornando cada vez mais limitado, mas acredita que o ano corrente oferece uma oportunidade crucial para avançar nessas pautas, especialmente em um contexto global marcado por eleições.

Em sua participação no Podcast ONU News, Ferro destacou que tópicos com base científica têm sido distorcidos para gerar medo e percepções errôneas. Segundo ela, o avanço social depende da desconstrução de normas que “violam a dignidade” das pessoas.

Encolhimento do debate público

“Eu acredito que houve um encolhimento do espaço de debate público. Questões antes respaldadas pela ciência, como educação sexual, identidade de gênero e direitos sexuais, agora são questionadas. Muitas vezes, esse espaço é reduzido por conta de deturpações que induzem ao medo, como se ao modificar normas sociais estivéssemos subvertendo culturas. Não é isso. Queremos transformar sociedades, desconstruindo normas que atentam contra a dignidade e o desenvolvimento individual. O ambiente atual é mais complexo e desafiador”, afirmou Mónica Ferro.

Ela também ressaltou que o avanço dessas agendas, especialmente aquelas ligadas à saúde feminina, depende da participação ativa das mulheres nos processos de decisão.

Fecundidade e o papel das mulheres

Com uma população mundial de 8 bilhões de pessoas, Ferro destacou que questões de fecundidade envolvem inúmeros aspectos sociais e de desenvolvimento, mas o peso das decisões políticas muitas vezes recai sobre as mulheres, sem considerar seus desejos individuais.

“Costumo dizer que quando nos focamos em números, o problema e a solução têm a forma do corpo de uma mulher. Se há filhos em excesso, impede-se a mulher de ter mais filhos; se há poucos filhos, força-se a mulher a tê-los. A abordagem precisa ser baseada nos direitos humanos, garantindo que cada pessoa possa realizar seu próprio projeto de fertilidade, sem seguir um padrão universal.”

Desafios da juventude

Mónica Ferro também observou uma tendência regressiva em relação aos direitos conquistados por gerações anteriores, o que, segundo ela, significa que as gerações atuais terão que lutar constantemente para preservá-los. Além disso, os jovens enfrentam o agravante da crise climática, que gera grande ansiedade em relação ao futuro.

“Percebo que os jovens estão ansiosos, e com razão. O futuro que lhes mostramos está cheio de desafios, talvez mais do que se poderia esperar para alguém em 2024”, afirmou ela.

Questões envolvendo o futuro e a juventude serão debatidas na Cúpula do Futuro, que ocorrerá na sede da ONU em Nova Iorque nos dias 22 e 23 de setembro. A Assembleia Geral está comprometida em adotar uma “Declaração sobre as Gerações Futuras” como parte do Pacto para o Futuro, um dos resultados esperados da cúpula.

*Silas Avila Jr. – Correspondente internacional

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