RESENDE/ITATIAIA
Foi enterrado na manhã desta quinta-feira, dia 17, no Cemitério Municipal Senhor do Passos, em Resende, o corpo de Anneli Turunen, de 92 anos, moradora muito conhecida do distrito Penedo, em Itatiaia. Nascida em Vaanta, próximo a Helsinque, Anneli viveu uma vida simples na Finlândia, ao lado de seu marido, um mecânico, e de sua pequena fazenda. Movida pelo convite de Katri, irmã de seu marido, Anneli cruzou o oceano em 1958, chegando a Penedo uma década após o fim do projeto coletivo da colônia finlandesa.
Em Penedo, Anneli construiu mais do que um lar; ela construiu um legado. Estabelecendo-se inicialmente na casa de Eeva Hohenthal, depois alugando a residência de Martti Kuurki no bairro Jardim das Rosas. Ela e o marido finalmente adquiriram um terreno no mesmo bairro, fincando raízes em solo brasileiro e, apesar de nunca ter retornado definitivamente à Finlândia, Anneli carregava sua terra natal no coração. Ela ensinou o idioma finlandês aos seus filhos, mantendo viva a língua que, na década de 1960, ecoava por Penedo, mesmo entre a minoria de origem sueca.
Anneli tornou-se uma guardiã das tradições finlandesas, especialmente através da dança folclórica. Com paciência, ela ensinava os passos a finlandeses visitantes, que muitas vezes desconheciam a prática, e a brasileiros, que ela elogiava pela facilidade em aprender. Suas aulas, uma continuidade do trabalho iniciado por Laura Suni, não eram apenas sobre dança; eram um ato de conexão, uma celebração da identidade finlandesa que se entrelaçava com a cultura brasileira.
A música, outra paixão de Anneli, era uma extensão de sua alma. Desde criança, ela aprendeu as incontáveis canções finlandesas, que cantava sozinha ou em coro com os colonos, mantendo viva a tradição oral de seu povo. Para ela, havia “música para tudo”, e cada melodia era um fio que a ligava à Finlândia.
No Clube Finlândia, Anneli encontrava um “pedaço de Finlândia”. As reuniões no clube eram como encontros familiares, onde a comunidade se unia para celebrar sua herança. Com sua presença calorosa, Anneli era o coração dessas celebrações, reforçando a identidade étnica dos finlandeses em Penedo. Sua visão sobre a colônia reconhecia as dificuldades dos pioneiros, como relatado por Lydia Reiman, e honrava figuras como Toivo Uuskallio, o centro do projeto coletivo, e Liisa Uuskallio, a quem Anneli admirava como uma mulher trabalhadora, administradora e cantora de voz marcante.
Anneli Turunen foi mais do que uma imigrante; ela foi uma ponte entre nações, uma mestra que ensinou não apenas passos de dança, mas o valor de preservar a própria história.