Com a chegada do inverno e uma possível 3ª onda, aumenta a preocupação com a Covi-19

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BARRA MANSA

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou na última       quarta-feira, dia 26, que o Brasil pode enfrentar uma nova alta de casos de Covid-19. Queiroga apontou que essa terceira onda, se ocorrer, pode ser provocada pelo avanço no país de uma nova cepa do coronavírus.

Uma variante indiana, já foi identificada em sete pacientes infectados no país. Marcelo disse que o Ministério da Saúde está vigilante para orientar os governos locais sobre medidas para evitar uma terceira onda e não descartou a necessidade de adoção, por parte dos municípios, de novas medidas de isolamento social.

Fiocruz faz alerta

A incidência de novos casos monitorada pelo Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta para um novo crescimento da pandemia nas próximas semanas, de acordo com boletim divulgado ontem, dia 27. Segundo os pesquisadores, na semana encerrada em 22 de maio, houve aumento da taxa que mede a quantidade de novas infecções, o que se soma a altos patamares de testes positivos para o diagnóstico da doença e pode se refletir em crescimento dos óbitos em até duas semanas.

Na semana analisada, a mortalidade causada pela Covid-19 se estabilizou em torno de 1,9 mil vítimas diárias. O patamar representa uma redução em relação ao mês de abril, mas é quase duas vezes maior que o primeiro pico da pandemia em 2020.

A previsão do boletim é que o aumento de casos observado tende a ser acompanhado por mais mortes e casos graves.

O cenário de alerta também se apresenta na análise da ocupação dos leitos de UTI, já que os pesquisadores identificaram que a tendência de queda no número de internados desde o segundo pico da pandemia foi interrompida.

O boletim chama atenção para a situação preocupante da Região Nordeste, onde Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Sergipe mantém taxas de ocupação perto de 100%. Alagoas também voltou à zona de alerta crítico, na qual também está a Bahia, ambos com mais de 80% de ocupação. Já Maranhão e Paraíba tiveram altas consideradas expressivas e chegaram a cerca de 75% dos leitos para pacientes graves ocupados.

Paraná (96%) e Santa Catarina (95%) também apresentam percentuais perto de 100% na ocupação, enquanto o Rio Grande do Sul (79%), em tendência de crescimento, se aproxima da zona de alerta crítico.

Todo o Centro-Oeste também está na zona de alerta crítico, acima de 80% de ocupação, sendo o Distrito Federal (96%) e o Mato Grosso do Sul (99%) as unidades da região que apresentam os piores quadros. No Sudeste, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro têm 80% ou mais de ocupação, enquanto o Espírito Santo se aproxima desse patamar, com 79% de ocupação.

Na Região Norte, Roraima e Tocantins apresentaram melhora na ocupação dos leitos, porém este último continua na zona de alerta crítico. Amazonas e Acre são os únicos estados do país fora da zona de alerta, com ocupação abaixo de 60%. Já o Pará e o Amapá tiveram piora e continuam na zona de alerta intermediário.

CENÁRIO DE PÂNICO

Para o pneumologista Gilmar Alves Zonzin, todo o atual cenário brasileiro, já é motivo para ter pânico. De acordo com ele, vivemos no limite. “Insumos, leitos, respiradores, profissionais, tudo isto está no limite e se a situação piora, dá medo do que vem pela frente. O que já temos no Brasil já é suficiente para ter pânico, não precisa de algo mais. A variante indiana é uma incógnita e que, lá na Índia, causou inúmeros danos em um país com estrutura precária, pior do que no Brasil. O mundo viral vive uma competição, quem é a mais forte a P1 que está no nosso país há mais tempo, ou a Indiana que está chegando? Ganha quem for mais veloz e agressiva”, explica.

Para ele, com a mudança de estação no Brasil, o inverno começa em 21 de junho, é um fator que tende a piorar ainda mais o cenário, pois, historicamente tem o aumento de doenças respiratórias virais no período. “No ano passado, tivemos um inverno atípico com temperaturas altas, as pessoas estavam mais assustadas, respeitando mais as medidas de prevenção. Neste ano as temperaturas já caíram bastante, e a população não está com o mesmo posicionamento, o receio é que com o comportamento de flexibilidade adotado por pessoas e autoridades, somado a queda das temperaturas, venha a aumentar ainda mais o processo de aceleração e progressão da doença. Outro fator preocupante são os novos casos de reinfecção que acontecem de forma mais branda e facilmente comparados a gripes comuns, atrasando a procura por tratamento e o diagnóstico de Covid-19”, pondera.

ONDAS DE COVID-19

Zonzin explica que a segunda onda da doença chegou forte nas regiões o de Manaus, São Paulo e Sul do país, lá houve declínio dos casos, o que, segundo ele, não aconteceu no Sul Fluminense. “Vivenciamos o segundo momento, com expectativas do terceiro. Essa é a realidade. Onde houve a redução, começa a ter uma soma de fatores que leva a terceira onda que é a baixa adesão das medidas de distanciamento. Existe uma fadiga natural, pressão econômica, necessidades de socialização, tudo isso é a nossa maior forma de proteção e redução de casos e não estão sendo levadas a sério. Existem alguns relaxamentos institucionais como o retorno das aulas, atividades religiosas e sociais que fomentam o contato interpessoal e que são associadas ao processo de transmissão”, aponta o médico.

O médico relembra que no Brasil, a Covid-19 foi se agravando e hoje, se vive a expectativa de um terceiro momento, que pode ser mais letal do que os outros. “Tivemos o início da pandemia e as pessoas levavam mais a sério as medidas restritivas, a doença progrediu, alcançou um auge e aconteceu à queda, daí foram fechados leitos e hospitais de campanha. Houve um respiro na redução de casos e óbitos. Mas antes que a situação realmente melhorasse, já veio um segundo movimento de crescimento, que veio secundariamente maior, com um uma situação impactante em especial, no que diz respeito a casos graves, mortalidade, e isso teve o seus motivadores, como o cansaço em relação as medidas de distanciamento, a progressão da variante P1, que foi a primeira cepa que mudou o cenário em termos de transmissão mais acelerada, trazendo casos mais graves e mais mortes”, relembra.

Falta de conscientização e agravamento de casos

Para o médico, o comportamento do brasileiro, somado a falta de atitudes mais severas por conta do poder público, são fatores fundamentais para o estado crítico no qual o país vive. “O fato é que não precisamos de uma variante nova para se ter uma 3ª onda. Precisamos é de uma população descuidada com as medidas restritivas, desapegada ao uso das máscaras e de higiene. Rebelde no sentido de não entender que aglomerações são o grande foco de aceleração, progressão e disseminação do vírus, somadas as novas variantes, e a falta de medidas drásticas de combate por parte dos governantes, vai se criando uma realidade  em que as coisas vão se somando e piorando e gerando a 3ª fase”.

Por estar na linha de frente no combate a doença, Zozin dá o testemunho pessoal do atual cenário que os hospitais estão vivenciando. “A Covid acomete em gravidade, principalmente, os homens e, atualmente, os mais jovens. As novas cepas que vão causando letalidade em cada vez mais faixa etária mais baixas, internações graves. Se a vacinação fosse mais rápida, muitas vidas seriam poupadas. Mas o comportamento do brasileiro ainda é bizarro, pois todos nós temos em nosso circulo de convivência alguém que já perdeu a vida para o Covid e continuam desrespeitando as medidas sanitárias. A mortalidade está altíssima, é assustador ver que as pessoas acreditam que a doença não é tão perigosa”, conclui.

 

 

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