PORTO REAL
A Polícia Civil concluiu que não houve tentativa de sequestro envolvendo uma criança de nove anos em Porto Real, conforme registrado inicialmente no dia 11. A investigação, conduzida pela 100ª Delegacia de Polícia (DP), revelou que o menino inventou a história após tentar fugir de casa para morar com o pai. A informação foi confirmada pelo delegado titular, Marcello Russo, nesta quarta-feira, dia 18, em entrevista para o jornal A VOZ DA CIDADE. Ele, desde o início suspeitou de contradições, mas iniciou a apuração.
O caso ganhou repercussão após a criança relatar que havia sido levada à força por dois homens em um carro prata logo após sair de uma igreja no bairro Colinas. Policiais do 37º Batalhão de Polícia Militar (BPM) encontraram o menino assustado, mas sem lesões, no posto da Dutra, e acionaram a família.
Segundo o delegado, diversas contradições foram identificadas no depoimento da criança, principalmente em relação ao tempo decorrido entre o momento em que ela saiu de casa, às 19h10min, e o horário em que foi encontrada, às 20h50min, em um posto de combustível, às margens da Via Dutra, no distrito de Floriano, em Barra Mansa. “Nesse período de uma hora e quarenta minutos, ela já poderia estar muito longe do local onde teria ocorrido o suposto sequestro, caso tivesse sido levada como relatado”, explicou Russo.
Outro ponto que levantou suspeitas foi o relato da criança de que teria pulado de um carro em movimento na altura da ponte do distrito de Floriano, em Barra Mansa. No entanto, ela não apresentava ferimentos, o que contraria a narrativa. “Além disso, a criança disse ter passado por diversos comércios, no caminho, antes de pedir ajuda apenas no posto de combustível, o que não condiz com alguém que fugiu de um sequestro”, completou o delegado.
Durante a investigação, os agentes tiveram acesso ao celular da criança, onde encontraram uma mensagem em que ela dizia desejar fugir de casa para ir ao encontro do pai. Ela já havia feito contato com ele, segundo informou a mãe durante depoimento. “Como ela se perdeu e não conseguiu chegar ao destino, fantasiou e criou a história do falso sequestro”, afirmou o delegado.
O ‘FAMOSO’ CARRO SUSPEITO EM CIDADES
Mensagens sobre “carros suspeitos rondando cidades e escolas” e “motoristas tentando levar crianças à força” reaparecem, de tempos em tempos, nos grupos de WhatsApp. Quase sempre se espalham rapidamente, alimentam o medo das famílias- mas raramente rendem registros formais ou investigações que confirmem a suspeita.
O caso de Porto Real rendeu registro policial. O delegado lamenta como uma situação possa ter mobilizado forças de segurança tirando atenção de investigações sérias.
Embora o delegado ressalte que sequestros infantis são “extremamente raros” na região, áudios e prints de “alerta” sobre carros sinistros circulam há anos. As descrições variam: ora um sedã preto, ora uma van branca, sempre “sem placa visível” ou “com vidros escuros”. Na maioria dos casos, nenhuma vítima formaliza queixa na delegacia, e não existem registros que sustentem a narrativa. “As pessoas compartilham sem checar. Isso gera pânico e desvia recursos da segurança pública. Se alguém vê uma situação suspeita, deve tentar confirmar ali mesmo- ou ligar imediatamente para o 190 ou para o Disque Denúncia. Mas não adianta criar alarme sem prova”, disse.
A RECOMENDAÇÃO É SIMPLES
Cheque a fonte antes de encaminhar mensagens de áudio ou texto alarmistas.
Procure a polícia se houver fato concreto (placa, foto ou vídeo verificável).
Converse com crianças e adolescentes sobre segurança pessoal, mas sem criar terror- e ouça com atenção caso relatem qualquer situação.