Candidata a prefeita de Barra Mansa denuncia caso de racismo e xenofobia

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BARRA MANSA

A moradora de Barra Mansa Clarice de Freitas Silva Ávila, de 49 anos, denunciou nesta segunda-feira, dia 21, ter sido vítima de racismo e xenofobia, na mesma data, por parte de uma motorista de uma empresa de aplicativo que presta serviço de transporte. O fato ocorreu no bairro Santa Izabel, quando, após um desencontro com a passageira, a condutora a atacou, desmerecendo o local e as pessoas que residem no bairro, segundo a vítima. Conhecida como Professora Clarice, a denunciante concorreu a prefeita pelo Partido do Trabalhador (PT) nas últimas eleições, com 6.479 votos. Ela defende que, como mulher preta, ela já passou por vários tipos de constrangimentos, mas que nunca foi tão ofendida e que não pode se calar diante da gravidade.

Ela conversou nesta terça-feira, dia 22, com o A VOZ DA CIDADE e contou que na segunda, às 13h40min, ela pediu uma corrida do Santa Izabel para o Centro e que é comum solicitar o serviço de transporte pelo aplicativo. Ela contou que o sinal de celular no bairro é ruim e que foi para a rua esperar pelo veículo que pediu, porém, que a motorista não a viu acenar, passando direto. “Quando ela retornou, iniciou uma serie de ofensas contra mim e aos moradores. Ela (motorista) afirmou que eu não estava no portão, mas eu estava e ela não viu. Depois disse que passou do meu endereço e se deparou com um ‘homem sem educação’, referindo-se ao morador do bairro”, comentou, narrando ainda que: “a motorista disse que este jogou o carro sobre ela”, completou.

Professora Clarisse explicou ainda que a mulher, não satisfeita, disse que “nesse bairro ela não volta nunca mais. Que é por isso que ninguém quer vir aqui, que só tem gente estranha”.

A vítima contou que ficou muito abalada e disse para ela que “estranha” é a atitude dela que não respeita as pessoas que moram na periferia. “Disse a ela que não mais entraria no carro, que seria a última vez, pois ela não respeitou a minha pessoa deixando de agir como profissional. Depois dessa minha fala, passados máximo cinco minutos de viagem, a motorista parou o carro e me obrigou a descer”, contou Clarisse, que explicou que falou que a obrigação dela era a levar ao seu destino, mas que a mulher se recusou a terminar a viagem e disse que iria cancelar. “Eu desci muito nervosa e estava sem bateria no celular. Então tive que procurar uma amiga que mora próximo ao local que desembarquei involuntariamente e essa minha amiga chamou um outro transporte, de outro aplicativo, pra eu chegar ao meu destino e me acalmou”.

Segundo a Professora Clarisse, a motorista foi racista quando chama de “gente estranha” os moradores de um bairro de maioria negra. “Ela me inclui nesse campo de “gente estranha” porque eu moro do bairro. Ela não respeitou, usou palavras ofensivas que discriminam e demonstram preconceito por classe e raça. Me tirou do carro como se tivesse expulsando um bicho. Será que ela expulsaria uma mulher branca e rica como fez comigo?”, questionou, defendendo que tendo uma sociedade estruturada no racismo, é fácil saber que a motorista não faria isso se estivesse com moradores e passageiros de bairros elitizados de pessoas não negras.  “Além de tudo, a motorista racista mentiu quando disse que cancelaria a corrida concomitantemente com minha expulsão do carro”, falou.

Clarice, militante ao combate ao racismo, esteve na 90ª Delegacia de Polícia para registrar o fato e foi orientada a fazer a ocorrência de forma online. Ela será chamada para depor sobre o ocorrido e, segundo ela, depois entrará com um processo contra a motorista e contra a empresa. “Não basta não ser racista, tem que ser antirracista”, concluiu.

DEFESA DA ACUSADA

No inicio da noite desta terça-feira, dia 22, a defesa da motorista de aplicativo, acusada, pela então candidata a prefeita de Barra Mansa, de crimes de racismo e xenofobia enviou nota ao A VOZ DA CIDADE comentando sobre o caso.

Na nota, a defesa da motorista relata que ela foi injustamente acusada pelos dois crimes. E que a exposição da mulher, feita pela suposta vítima em redes sociais, inclusive com sua imagem, marca e modelo do seu veículo de trabalho está gerando repercussão negativa.

O jornal, não tinha usado o nome da motorista pelo fato de não ter contato para defesa. Segue abaixo a nota da defesa, assinada por Julia Frauche Faria na íntegra.

“A defesa de Adriana vem a público prestar nota de esclarecimento perante o ocorrido no dia 21 de dezembro de 2020, onde a motorista de aplicativo foi injustamente acusada pelo crime de Racismo e Xenofobia. Além disso, teve sua imagem e informações pessoais (como a marca do carro) expostas em rede social pela suposta vítima, gerando uma imensa repercussão negativa.

É de notória relevância salientar que, em meio ao grande aumento de violência e feminicídio praticado contra motoristas de aplicativos, é normal que esta tenha preocupação de onde será seu destino e se precaver, caso tenha preocupação com sua segurança.

A mesma também foi acusada de seguir corrida sem a passageira, não cancelando a viagem. O que não aconteceu e será provado na justiça.

Adriana, devido à repercussão, retaliações e ameaças advindas da falsa acusação no post da suposta vítima, teve que abandonar seu trabalho, uma vez que, não se encontra em condições psicológicas para trabalhar, além de estar com medo. Adriana trabalha há quase três anos com o aplicativo, efetivando com sucesso várias corridas, tendo nota quase máxima de 4,97 de satisfação pelos clientes, conquistou amigos e colegas durante todo esse tempo fazendo do aplicativo sua renda principal do sustento próprio e de sua família.

Sobretudo, de forma inesperada vem recebendo visita de pessoas desconhecidas procurando por ela, onde sua mãe de apenas 86 anos atendeu. Adriana, não está segura e não se sente assim, pois lhe foi imputado um crime que ela não cometeu.

Por fim, tal assunto e imputação falsa do crime será resolvido na Justiça e toda a defesa e indagação sendo feita dentro dos ditames legais, garantindo sempre a ampla defesa e o devido processo legal. Ressalto, pois, que até o dado momento, não foi feita qualquer denúncia à mesma.

Sem mais,
JULIA FRAUCHE FARIA
Advogada OAB-222429

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