Caminhoneiros revelam insatisfação com conquistas obtidas após a greve de 2018, aponta a CNT

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SUL FLUMINENSE

Os avanços obtidos a partir das reivindicações dos caminhoneiros com o fim das paralisações de 2018 não são considerados satisfatórios para a maioria dos profissionais, segundo dados de um levantamento divulgado nesta quarta-feira, 16, pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), a partir da Pesquisa CNT Perfil dos Caminhoneiros 2019. Sobre a greve dos caminhoneiros no ano passado, a pesquisa da CNT indica que 65,3% dos entrevistados afirmam ter participado da paralisação; 64,4% afirmam que foram informados via a rede social WhatsApp sobre os rumos da paralisação e 74,7% que conheciam a pauta de reivindicações. E para 56% dos entrevistados, as conquistas do movimento não foram satisfatórias. Os caminhoneiros trabalham, em média, 11,5 horas por dia, durante 5,7 dias por semana, e chegam a rodar mais de 9 mil km por mês.

 

A pesquisa da CNT teve como público-alvo os profissionais de regiões metropolitanas das capitais, unidades com a maior frota, abrangendo o total de 1.066 entrevistados, no período de 28 de agosto a 21 de setembro, de 2018. A metodologia utilizada na coleta de dados a de amostragem sistemática de caminhoneiros em postos de combustíveis e grandes áreas comerciais pré-definidos proporcionalmente distribuídos em 714 autônomos (67,0%) e 352 empregados de frota (33,0%). Os resultados consolidados de autônomos e empregados de frota são apresentados como o total de caminhoneiros.

A pesquisa revelou que a média de idade dos motoristas é de 44,8 anos e a renda mensal líquida média é de R$ 4,6 mil, sendo que caminhoneiros autônomos ganham R$ 5 mil e caminhoneiros empregados de frota, R$ 3,7 mil. Em média, os entrevistados estão na profissão há 18,8 anos. “A Pesquisa deixa clara a realidade enfrentada pelos profissionais nas nossas rodovias. Renda mensal baixa, insegurança e o elevado preço do combustível são os grandes problemas”, comenta o presidente da CNT, Clésio Andrade.

REIVINDICAÇÕES
Segundo a CNT, entre as reivindicações que os caminhoneiros entrevistados consideram importantes, estão: a redução do preço do combustível, apontada por 51,3%; mais segurança nas rodovias (38,3%); juros mais baixos para o financiamento de veículos (27,4%); e aumento do valor do frete (26,2). Já os principais entraves para a profissão foram apontados na seguinte ordem: assaltos e roubos (64,6%); custo do combustível (35,9%); e valor do frete (27,4%).

Sobre o transporte de cargas, para 62,9% dos caminhoneiros entrevistados houve diminuição de demanda em 2018. Destes entrevistados, 62,1% alegam que o principal motivo foi a crise econômica e 20,3% que o motivo foi custo do frete. Referente à saúde, 38,1% dos autônomos disseram que procuram profissionais de saúde para prevenção. Já entre os empregados de frota, esse índice chega a 51,8% dos profissionais; 20,3% dos caminhoneiros utilizam regularmente algum tipo de medicamento controlado por indicação médica. Destes, 56,4% utilizam remédio para hipertensão e 18,0% para problemas relacionado ao diabetes; 43,0% dos profissionais não praticam qualquer atividade física.

A pesquisa da CNT revela ainda que o mercado é essencialmente masculino: 99,5% dos profissionais são homens. Na análise isolada, entre os empregados de frota apenas 0,3% do total é de mulheres ao volante e entre os profissionais autônomos 0,6%. Em média, os veículos utilizados pelos profissionais duram 15,2 anos e no universo dos autônomos, 47% adquiriram seus veículos por meio de financiamento. Os caminhoneiros também estão cada vez mais conectados: 87,7% usam a internet.

MARCO REGULATÓRIO

Para o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas (Sinditac) do Sul Fluminense, Francisco Wilde, a pesquisa reflete o sentimento dos profissionais que esperam melhorias com o respaldo do governo federal, como o piso mínimo do frete. “A paralisação de 2018 teve como foco principal a nossa luta pela redução do valor do diesel e do frete rodoviário. Mas, claro, existem outras reivindicações que precisamos obter o apoio do governo federal como o Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas. Sobre esta e outras reivindicações tivemos hoje (16) uma reunião, em Brasília, com o ministro da Infraestrutura. A expectativa é que o novo governo seja solidário à causa dos caminhoneiros”, comenta Wilde.

A categoria espera o aval do Senado para aprovação do Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas. Com 91 artigos, o marco regulatório estabelece regras de segurança nas estradas, infrações e condições de contratação de transportadores, como pagamento, seguros e vale-pedágio. As determinações valem para caminhoneiros autônomos, empresas de operação logística, transportadores de carga própria, cooperativas e empresas transportadoras de cargas e de valores, que ficam divididos de acordo com o número de veículos de carga e a capacidade de transporte em toneladas.

Na reunião com Tarcísio de Freitas, no Ministério da Infraestrutura – antigo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil – estiveram representantes da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), diretores sindicais e caminhoneiros. “O Sinditac Sul Fluminense teve representatividade na reunião que tratou da simplificação de tudo no transporte, desde o registro na ANTT com plataforma digital até a fiscalização do piso mínimo. Todos saíram otimistas, ouviram do ministro que o governo vai honrar com o cumprimento da lei: o piso mínimo é uma lei e contamos com isso”, comenta Wilde.

Um dos participantes do encontro na capital federal foi o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (Sinditac) de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer. “Foi uma boa audiência e mostrou o que o governo pretende fazer e que a luta continua. A fala do ministro dá segurança. O piso mínimo é lei e o ministro disse que vai. Haverá fórum permanente, canal direto com o ministério, auxílio para as cooperativas de transporte. Precisamos estar vigilantes e atuantes, trazendo propostas”, sintetiza Litti.

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