Bispo admite precipitação em iniciar obra do altar da Igreja Matriz sem discutir mais com comunidade

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BARRA MANSA

Na manhã de sexta-feira, o Conselho Municipal de Cultura, realizou uma reunião no Palácio Barão de Guapy, para que o projeto das obras da Igreja Matriz de São Sebastião fosse apresentado. Estiveram presentes cerca de 40 pessoas, entre elas o bispo da Diocese Barra do Piraí-Volta Redonda, Dom Francisco Biasin, padre Milan, titular da Matriz, e representantes da comunidade. Na reunião, o bispo admitiu que houve uma precipitação ao iniciarem as primeiras obras necessárias, sem discutir melhor com a comunidade católica, mas o intuito foi adequar a uma orientação litúrgica do Vaticano e também cumprir a Lei da Acessibilidade. Frisou que o altar será reformado, mas o painel não será extinto, sim apenas um novo seria colocado à frente. Pediu no encontro que a situação seja analisada com razão, coração e bom senso histórico. O padre Milan também citou que o painel já sofreu diversas interferências durante os 60 anos da Igreja.

Além do projeto ser apresentado, representantes da comunidade e do conselho tiveram a oportunidade de expor suas opiniões.  A apresentação do projeto, feito em slide, mostrou com detalhes todas as mudanças pretendidas na igreja. Em uma ilustração 3D, é possível ter uma ideia de como ficará o local após a obra. De acordo com a apresentação, não há intenção de modificar o painel original, ele ficará escondido atrás do novo que trará a imagem de São Sebastião, Jesus Cristo Bom Pastor e Maria. Outras modificações seriam a acessibilidade ao presbitério, sacristia e capela do santíssimo, aumento da área útil do presbitério e aproximação entre celebrantes e os fiéis.

EXPLICAÇÃO DAS OBRAS JÁ INICIADAS

De acordo com o padre Milan, o conselho é o lugar ideal para ouvir as demandas, propostas e as preocupações, já que todos querem o bem comum. “Queremos fazer aquilo que for possível dentro das orientações legais que temos. Não estamos querendo descaracterizar o templo, queremos as melhorias de adequação, como a acessibilidade para os cadeirantes. A retirada da cerca seria a única mudança radical, trazendo também o altar mais para frente”, disse, completando que a obra que começou a ser realizada no altar, faz parte apenas de uma readequação.

As obras no altar começaram essa semana – Foto – Luana Januário

O padre ainda explicou que as melhorias de adequações têm que ser contempladas, principalmente a questão da acessibilidade para os cadeirantes. “E a questão do revestimento do piso é uma melhoria, colocando uma sintonia estética mais equilibrada”, disse.

Outro motivo para a o início da primeira parte da obra, seria para atender as orientações do Vaticano, pois uma mureta dividindo os celebrantes dos fieis já não faz mais parte das diretrizes do Vaticano. Durante as considerações finais da reunião, o padre Milan também destacou as modificações que a Igreja Matriz sofreu durante o decorrer dos seus 60 anos. “O painel atual, construído nos anos 1960, durante a grande reforma que descaracterizou a Igreja, sofreu várias intervenções e acréscimos”, contou.

Segundo a assessoria da Diocese Barra do Piraí-Volta Redonda, a obra que já começou não faz parte do projeto inteiro. Ela é apenas para readequar o altar, para que todos possam ter acesso.

Projeto em 3D da obra projetada para Igreja Matriz – Foto – Fábio Guimas

COMISSÃO FORMADA  

Hoje  mesmo foi formada uma comissão, dentro do Conselho Municipal de Cultura para analisar a proposta quando a mesma for protocolada pela Igreja Matriz. São oito integrantes, quatro da sociedade civil e quatro do Poder Público.

Segundo o presidente da Fundação de Cultura, Marcelo Bravo, depois que o projeto for protocolado na Secretaria de Planejamento Urbano, em 15 dias a comissão, nomeada ao fim da reunião, editará um parecer técnico que será conclusivo. “Tudo levará em consideração a legislação vigente, aspectos técnico, históricos culturais e artísticos propostos pela igreja”, disse, completando que técnicos especialistas serão convidados para orientarem o conselho. “Mas acima de tudo, acho que a comissão deve acolher o pedido de Dom Francisco de analisar o projeto com a razão, com o coração e com respeito”, falou.

A comissão pode emitir um parecer acerca de diversas óticas, aprovando a obra, reprovando com ressalvas ou reprovando totalmente. Saber se a igreja poderia iniciar a obra no piso ainda é muito prematuro, ao que tudo indica apenas com o parecer da comissão.

O que se sabe é que existem dois lados, os que defendem que a igreja está errada mexendo na estrutura, citando artigos da Lei 4.602, do tombamento da Igreja Matriz, onde diz que para reforma ou restauração o projeto precisa passar pelo conselho, por exemplo, e os que como o bispo Dom Biasin, que mencionam o quanto a igreja quer manter a arte e a cultura, mas com o cumprimento de uma orientação do Vaticano e respeitando a lei de acessibilidade.

Há ainda um ponto a ser observado que não existe um inventário técnico do tombamento, que determina o que deve ou não ser tombado na igreja. São quatro procedimentos para o tombamento: a lei, a aprovação do conselho, o inventário e o registro no livro do tombo. “O processo de tombamento não está completo. Temos a lei e a aprovação do conselho, mas ainda é necessário inventário, feito pela prefeitura ou Igreja Matriz, e, por fim, o registro no livro”, disse Bravo, completando que a fundação não está no campo das opiniões. “Estamos no campo técnico. Não é mais questão da fé do fiel, é da política de preservação do patrimônio cultural. E esse campo não é tão subjetivo quanto parece. Não são questões subjetivas que determinam se pode ou não. São questões técnicas e acadêmicas. Não é um achismo no que deve ou não ser feito, existem aspectos técnicos de arquitetura, de arte, cultural”, definiu Bravo quando foi questionado se a obra poderia ser iniciada sem aprovação do conselho.

PRESENTES OPINAM

De acordo com um dos conselheiros e historiador, Lucas Barbosa, ficou entendido com o encontro é que a intenção também é fazer intervenções artísticas no templo. “A proposta é muito interessante, vai de encontro a todo espaço. Entretanto, é necessário que isso seja feito com cuidado e sempre respeitando alguns pontos, principalmente técnicos”, disse, completando que o projeto é lindo, porém para uma igreja nova e não para a Matriz. “Por mais que a igreja já tenha sofrido algumas intervenções ao longo do tempo, o local é um prédio histórico. É preciso restaurar o que é necessário e não descaracterizar o que deveria ser preservado”, explicou.

Segundo o presidente do Ponto de Ação Cultural (PAC), Marcos Marques, é preciso respeitar a legislação vigente. “A Lei 4.602 foi criada justamente para evitar situações como essa. Então se você for fazer a intervenção em um patrimônio cultural, tem que seguir os procedimentos legais”, disse Marcos, que já foi presidente do Conselho Municipal Cultural em 2016, e participou da aprovação da lei.

Marcos completou que o projeto tinha que passar por aprovação do conselho antes da igreja iniciar qualquer obra. “A igreja não seguiu os procedimentos quando iniciou a reforma. E foi justamente isso que fez gerar toda essa polêmica que ficou mal explicada para a população”, disse.

ABAIXO-ASSINADO CONTRA MUDANÇA

Na manhã dessa sexta-feira, 30, aconteceu também em frente à Igreja Matriz, no Centro, uma mobilização para recolher assinaturas. Uma das lideranças da Igreja São Pedro, do bairro Cotiara, Anderson Nunes, contou que chegou ao local às 8 e ficou até às 11 horas, recolhendo quase 300 assinaturas.  “Além do recolhimento que fizemos em frente à igreja, outras pessoas também estão andando pela cidade colhendo assinaturas”, finalizou, completando que as assinaturas serão entregues ao Padre Milan, apresentando o manifesto popular contra a reforma.

Abaixo-assinado contra as obras, realizado das 8 às 11 horas em frente a Matriz – Foto – Fábio Guimas

 

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