BARRA DO PIRAÍ
Barra do Piraí amanheceu em movimento nesta quinta-feira (20). Logo cedo, tambores e cânticos ecoaram pelo Largo da Feira, ponto de partida da Caminhada contra a Intolerância Religiosa, que chegou à sua 10ª edição reunindo centenas de pessoas em torno de um único propósito: celebrar a ancestralidade e reafirmar o direito à fé e à diversidade.
Colorido por turbantes, vestes brancas, faixas e bandeiras, o cortejo seguiu pelas ruas do Centro, chamando a atenção de quem passava. De longe já se ouvia a percussão que guiava o passo firme dos participantes. O destino era a Praça Nilo Peçanha, onde a manhã ganhou um dos momentos mais simbólicos do evento: a lavagem do busto de Zumbi dos Palmares, gesto coletivo de respeito às raízes negras que construíram a história do país.
Figura central da caminhada, Mãe Ione ressaltou a força da data e o papel das religiões de matriz africana na construção da identidade brasileira.
“O Dia da Consciência Negra é uma data de luta e de afirmação. Nós buscamos liberdade para viver nossa cultura e nossa fé com respeito. A caminhada mostra que estamos unidos, fortes e determinados a combater a intolerância e todas as formas de preconceito.”
Ao lado da comunidade, a prefeita Katia Miki destacou que a luta contra o racismo precisa ultrapassar o calendário e se transformar em ação constante.
“Fico muito feliz. Já participei outras vezes como vereadora. Como prefeita, agora tenho a responsabilidade de lutar contra a intolerância, o preconceito e o racismo. Criamos a Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial para trabalhar políticas públicas. Que não seja só um dia, mas que a gente consiga identificar onde estão os problemas e conseguir intervir. Que Barra do Piraí seja uma cidade que acolhe a todos e respeita a diversidade.”
A diretora de Ações Afirmativas e Diversidade, Cristiane Silva, lembrou que consciência negra não se resume a um dia de programação, é uma agenda permanente.
“O Dia da Consciência Negra é de celebração e também de reflexão. Precisamos combater o racismo e todas as formas de discriminação todos os dias, e isso só é possível através de políticas públicas. A criação da Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial é um passo fundamental nesse caminho.”
Durante toda a tarde, a Praça Nilo Peçanha se transformou em um corredor cultural. Teve jongo, capoeira, música, desfile de turbantes, gastronomia africana e rodas de conversa que reuniram moradores, visitantes e grupos culturais de vários bairros.
O secretário de Cultura e Economia Criativa, Gabriel Barbosa, destacou que a cidade carrega uma identidade negra que precisa ser vista e celebrada.
“Eventos como esse, em espaços públicos, são muito importantes para reafirmar nossa diversidade e valorizar as religiões. Barra do Piraí é uma das cidades mais negras do Brasil. Celebrar esse dia é lutar contra o racismo e reconhecer tudo o que a cultura negra representa para nós,”disse o secretário.
A artesã Claudia Turbantes, de Valença, participou pela terceira vez da Feira Afro e levou peças que misturam identidade, memória e modernidade.
“É fundamental ter esse evento. Barra do Piraí, assim como Valença, foi construída sobre o vale do café, cidades marcadas pela presença de pessoas escravizadas. Participar da feira é honrar essa memória e celebrar a força do nosso artesanato.”
