Dinheiro Descomplicado - Itaise Cabral

Quanto vai vir à próxima fatura do seu cartão de crédito? Sei que é uma pergunta difícil, mas tem apenas cinco segundos para responder, sem consultar o App do seu banco. Se você não conseguiu, faz parte do grupo de 33% dos brasileiros que, segundo uma pesquisa do SPC em agosto desse ano, afirmam só ter conhecimento do valor da fatura na hora de pagar. A mesma pesquisa revela que 55% dos entrevistados consideram que precisam cortar gastos, se este também é um desejo seu, temos um passo inicial bem eficiente, os gastos invisíveis.
Hoje, vários serviços atraentes, oferecem tempo de degustação bem interessante, mas passado esse período, muita gente se esquece de cancelar, ou simplesmente fica com preguiça. O problema aparece quando temos incontáveis assinaturas de serviços que não usamos, ou usamos tão pouco que não justifica um vínculo mensal que se estende por tempo indeterminado.
São R$ 21 da Netflix, R$ 26 do Sem Parar, R$ 16 do Spotify, e por aí vai, se somar tudo, a quantia gasta deixa de ser insignificante. Não há nada de errado em ter estes e outros serviços, desde que façam sentido no seu dia a dia e, principalmente, sejam usados. Reveja o que está cadastrado como assinatura mensal e enxugue o máximo. Mas atenção, não só o cartão é o grande vilão da história, é preciso rever a estrutura de cada serviço consumido. Por exemplo: o plano da sua academia é supercompleto, com direito a várias aulas que você não consegue fazer por falta de tempo? Negocie um plano mais simples. Sua TV tem vários canais exclusivos que hoje você nem vê mais? Opte por um pacote reduzido com o que de fato te atende. Você tem 20 GB de internet por mês e não usa tudo? Seu plano de celular te dá direito a mais chips para compartilhamento de dados e você não precisa? Tudo isso pode ser revisto e abrir uma grande porta para novas economias. Qualquer R$ 100 economizado vale a pena! Se toda economia de assinaturas e serviços somados acrescentarem R$ 150 por mês no seu orçamento, esse valor aplicado pode te gerar R$ 10 mil em cinco anos.
Agora é só deixar a preguiça de lado e começar a colocar na ponta do lápis estas economias que nem te farão falta, mas, com certeza vão dar um gás no orçamento mensal.

Era uma vez uma pessoa que gastava sem o menor controle, considerava o cheque-especial parte do seu salário, pagou o mínimo do cartão de crédito por alguns meses até que não teve jeito, precisou parcelar a fatura. Feito isso continuou usando o cartão, mas como agora o limite era bem menor, contratou os serviços financeiros de outro banco e toda a história se repetiu. Se você se identifica com o personagem dessa estória, não precisa se considerar um paciente terminal, existe uma corda pra te tirar desse buraco.

O descontrole acaba com a saúde financeira de várias famílias e por conseqüência, geram transtornos que podem acabar até com a própria família. Acredito que nenhum tratamento de saúde seja agradável, com a vida financeira é a mesma coisa. Além do remédio amargo é preciso ter hábitos saudáveis.

O primeiro passo é reavaliar como anda o seu consumo, uma planilha com suas despesas é o ideal para ter a correta compreensão de pra onde anda indo seu dinheiro, mas nem todo mundo consegue anotar tudo, até porque é da nossa natureza fugir de informações ruins, então tenho uma dica simples que vai fazer muita diferença. Baixe o app do seu banco e olhe o extrato da sua conta todos os dias, mas tem que ser todo dia mesmo, sem exceção. À medida que você acompanha seus gastos, vai ficar claro o que pode ser cortado.

Outro vilão é o cartão, seja débito ou crédito ele dá a mesma aparência para qualquer valor. Na hora de pagar, o que sai da sua carteira é sempre o mesmo retângulo, com a mesma cara, seja para R$ 10, R$ 100 ou R$ 1000, assim o desconforto de gastar muito é amenizado. Deixe o cartão em casa e passe a pagar suas compras com dinheiro vivo, os peixes e as onças vão te ajudar a parar de gastar sem critério.

E por último é necessário renegociar as dívidas e trocá-las por soluções mais baratas. Os maiores juros cobrados são os do cartão e do cheque-especial, não as deixe acumular. A primeira opção de crédito é uma modalidade chamada ‘consignado’, ela é descontada na sua folha de pagamento e possui taxas bem baratas. Outra opção é o refinanciamento do seu veículo, é como vender o carro pra si mesmo, você recebe o valor do carro, quita as dívidas e paga as parcelas. A última opção é um crédito pessoal, negocie bastante e procure taxa de juros de até 3% ao mês.

Aos poucos sua saúde financeira vai se recuperando e sai da UTI dos endividados. A bonança não vem da noite para o dia, mas é totalmente possível fazer com que sua conta corrente e seu dinheiro sejam felizes para sempre.

Nem todo mundo tem muito dinheiro para investir, ainda mais se você acabou de começar essa nova fase. Ao contrário do que se houve falar por aí, investir não é coisa de gente rica, é coisa de quem quer ficar rico, e toda maratona começa no primeiro passo. Se você quer começar e está sempre esbarrando em opções não muito rentáveis em bancos comuns, hoje vou te apresentar o Tesouro Direto.

No Tesouro Direto podemos comprar os famosos títulos públicos, que são basicamente um empréstimo que você faz ao governo para financiar seus projetos. Eles são investimentos seguros, já que para o país nos dar um calote ainda precisamos de muito mais anos com uma gestão pública piorada.

Para começar é preciso escolher uma corretora que vai custodiar seus títulos. Hoje existem várias que não cobram nem corretagem nem administração, a única coisa que não dá pra escapar é a taxa que a BM&FBovespa cobra pela custódia dos títulos na Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) de 0,3% ao ano. Passado isso, chega a hora de escolher qual título comprar, são várias opções, mas vamos começar por duas. Se você acredita que vai usar o dinheiro em um prazo menor do que dois anos, ou se está compondo a reserva de emergência que deve ter seis meses de renda como já falamos aqui, escolha o Tesouro Selic (LFT). A rentabilidade deste título acompanha a taxa de juros, por isso não oferece risco do preço do título estar abaixo do mercado, e você pode vender quando quiser. Mas se está investindo para um prazo maior que dois anos, pode optar pelo Tesouro IPCA (NTN-B). Sua rentabilidade é composta por um cupom pré-fixado somado à variação do IPCA, que é um termômetro da nossa inflação. O poder de compra da sua fortuna em construção é garantido com a variação do índice, e ainda se ganha um crescimento real sobre o seu montante. Se por algum motivo você quiser vender seu título antes do vencimento, em determinadas condições de mercado é possível que se tenha prejuízo, então destine para este investimento o que não fez planos para usar.

Agora acabaram as desculpas para não começar investir. O valor mínimo é de R$ 30 e a ordem de compra pode ser dada tanto na sua corretora como no site do Tesouro Direto. Comece com pouco, mas não deixe de começar, o hábito de gastar menos que se ganha, com o tempo se torna exponencial, e se chega a resultados surpreendentes.

Largada foi dada. Já pode começar sua maratona para o enriquecimento com este primeiro passo.

Já passou por uma vitrine ou viu um anúncio na internet de algo que nem estava pensando em comprar e de repente achou que talvez precisasse? Passaram-se alguns segundos e você já tinha certeza absoluta que aquele item era totalmente necessário. Seu dinheiro já estava destinado à sua reserva, mas você não resistiu e comprou?

Sua cabeça passou por um processo chamado dissonância cognitiva, que é quando estamos diante de duas idéias contraditórias e procuramos dissolver o desconforto que isso causa forçando a barra para um lado. Momentos como esses são capazes de destruir todo um planejamento, e se você se sente tentado a pensar o famoso clichê “Devo, não nego, pago quando puder”, tome cuidado! Vários estudos já chegaram à conclusão de que dinheiro não traz felicidade, mas a falta dele causa infelicidade através de transtornos e preocupações.

Hoje eu gostaria de falar de um estudo específico desenvolvido pelo psicólogo Daniel Kahneman que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002. Nele é estabelecido duas maneiras de pensar: Rápido e Devagar. A maneira rápida, que ele chama de sistema 1, compreende tudo é “automático”, coisas que já estão dentro da nossa rotina e por isso não precisam de esforço para serem realizadas como o caminho do trabalho pra casa, escovar os dentes, etc. A maneira Devagar, chamada por ele de sistema 2, indica o que nos exige um raciocínio maior para ser executado, e por conseqüência é mais difícil.

Pensar dá muito trabalho e exige esforço físico do nosso corpo. Na hora de tomar uma decisão, nossos músculos tencionam, o coração acelera, as pupilas dilatam e o nosso organismo fica em estado de alerta. Em todo momento, inconscientemente, nós vivemos em busca de poupar todo e qualquer esforço, porque este é um recurso finito que temos e nossa cabeça entende que é preciso estocar para quando for preciso. Por isso somos tendenciados a optar pelo que é mais fácil, pelo que está no hábito, no sentimento de prazer e o que nos é familiar.

Olhar a vitrine, pensar no planejamento, fazer as contas, lidar com a frustração de não ter algo desejado, e ainda tudo ao mesmo tempo, é uma tarefa nada fácil, e nos é exigido ativar o Sistema 2. Para ter disciplina na formação da reserva é preciso fazer um exercício mental e tornar o ato de resistir uma compra algo automático que não venha exigir muito esforço. Quanto mais vezes resiste, mais fácil fica e o seu planejamento financeiro agradece. Que tal começar a exercitar o cérebro? Garanto que bons resultados surgirão.

Uma baleia é uma espécie de mamífero ou de um peixe?? É um mamífero! Mas engana direitinho. Assim existem alguns produtos financeiros que muita gente acha que é um investimento rentável, mas quando coloca o retorno na ponta do lápis, a conta não fecha muito bem. O que deveria fazer crescer o patrimônio, acaba estagnando aquela reserva ou até mesmo causando perda de dinheiro.

Qualquer coisa pode ser considerada um investimento para muita gente, até mesmo um perfume para o primeiro encontro em busca de um retorno que é causar boa impressão. Mas os investimentos no mercado financeiro devem obedecer à algumas regras. Eles são regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), devem ser ofertados mediante o perfil de tolerância a risco de cada investidor e, a intenção de todos eles deve ser gerar retorno financeiro.

Existem alguns produtos que insistem em nadar no aquário de investimentos, mas que na verdade não são peixes, como os títulos de capitalização por exemplo. Eles se assemelham a uma loteria, você paga por um tempo determinado, normalmente de 5 anos, no decorrer desse tempo concorre a sorteios e, se no final não for contemplado, recebe o valor de volta com a correção da TR somente. Muita gente confunde com a correção da Caderneta de Poupança, a diferença é que na poupança, além da TR, é somado 70% da SELIC. Outro detalhe é que quando a taxa de juros fica tão baixa como está agora, a TR é igual a zero, ou seja, o título de capitalização fica sem correção, e se for resgatado antes do prazo, você pode perder até 50% do valor que aplicou. Para quem é indicado este produto? Para as pessoas que gastam mais do que devem em apostas. Se seu palpite não for certeiro, pelo menos tem o dinheiro de volta.

Outra modalidade que também não é um investimento é o consórcio. Nele você antecipa o pagamento por um bem que ainda não tem e paga uma taxa de administração por isso, essa taxa gira em torno de 14%. Algumas pessoas comparam com um financiamento e julgam o preço que se paga mais barato, mas no financiamento você já está usufruindo do bem. Se todas as parcelas que seriam pagas fossem aplicadas em um fundo DI o resultado final seria bem maior do que o valor da carta de crédito. Para quem é indicado? Para as pessoas que não conseguem manter uma disciplina na hora de poupar, e precisam de uma “parcela” para conquistar o que se objetivou.

Para ter muitos peixes, é preciso de cuidado com os mamíferos que se escondem entre eles. Não há nada de errado em decidir colocar seu dinheiro no que não é um investimento, desde que você saiba o retorno ou a falta dele que terá. Para isso não acontecer, tenha um objetivo claro e não terceirize a administração do seu montante. Pesquise antes de investir!

De Poupador a Investidor

Na hora que se decide deixar a vida de gastos descontrolados e encarar um planejamento financeiro, tudo fica mais fácil se for traçado um objetivo claro, uma meta com real possibilidade de ser alcançada. Não adianta se prometer que será milionário em um ano se sua capacidade de poupança não for correspondente a isto. O perigo de objetivos intangíveis é a frustração que pode te tirar o gostinho da conquista, te desanimar e deixar a independência financeira cada vez mais longe.

Seu dinheiro precisa completar três reservas diferentes, e estas devem ser preenchidas na seguinte ordem para que os imprevistos sejam cada vez menos apavorantes:

A primeira delas é a reserva do dia-a-dia, aquela que serve pra cobrir eventuais emergências como pagar a franquia do seguro em um acidente, custear um gasto de saúde inesperado ou ainda cobrir suas despesas em um eventual desemprego. Nesta reserva deve conter seis vezes sua renda mensal, sempre aplicada em investimentos com muita liquidez e sem oscilações como os CDBs, os fundos DIs e até a poupança.

A segunda é a destinada a sua aposentadoria que aos 65 anos deve estar recheada com nove anos de renda. Nessa reserva entra, além do seu valor aplicado, os imóveis que possui e não mora. Pra saber se está no caminho certo, existe um termômetro, aos 35 anos você precisa ter um ano de renda; com 45 anos, três e aos 55, o equivalente a seis anos. Quanto antes começar, menor será o valor mensal que terá que desembolsar. Mas se você já passou dos 40, não se desespere! Subtraia 10 da sua idade, essa é a porcentagem do seu salário que precisa começar a guardar. Escolha investimentos que te garante vantagem com o longo prazo que estará aplicado, como as previdências privadas e o Tesouro pré-fixado mais inflação (NTN-B).

Por último, a terceira reserva é a construção do seu patrimônio e para esta, o céu é o limite. Guarde o quanto puder. Aqui você programa a viagem dos sonhos, o novo carro, aquele imóvel maravilhoso, etc. Para esta reserva se pode tirar proveito com as oportunidades que surgem no mercado, arriscar mais o capital investido e abrir mão da liquidez.

Estratégia montada, agora é só descobrir o investidor que existe dentro de você!

Diferente do que muita gente acredita, dá para ficar milionário sem ganhar na mega-sena. É claro que não é fácil. O processo exige disciplina, boa vontade e coragem. Mas se você ficou interessado, vamos a receita!

R$ 1.000.000,00 se constrói com R$ 300 por mês, mais 1% de juros, mais 30 anos. Simples assim. Partimos da premissa que quanto mais cedo começar melhor, mas se você não tem 30 anos pela frente para investir, não precisa se desesperar! Ainda há esperança.

Se falta um item dessa receita, este deve ser compensado com um volume maior dos outros dois. Assim, se R$ 300 por mês é muito, aumente o prazo ou procure opções com uma relação de risco x retorno maior. Se você morre de medo, e qualquer oscilação de mercado já te tira o sono, precisa aumentar esse fluxo de caixa.

É comum escutar a frase ‘prefiro ganhar pouco, mas ganhar sempre’ ou ainda ‘eu não guardo dinheiro para aposentadoria porque não sei se vou estar vivo até lá’. E assim vamos construindo barreiras que nos impedem de formar as nossas reservas. Ter dinheiro aplicado não é só um luxo, uma emergência pode te fazer precisar, um grande sonho, ou até a coisa mais concreta de toda, a aposentadoria!

Uma pesquisa recente do SPC Brasil mostrou que oito em cada dez brasileiros não se preparam para a aposentadoria. Não espere o dinheiro sobrar, porque isso não vai acontecer. Estabeleça um valor fixo e tenha disciplina para respeitar o seu objetivo. E quanto menos procrastinar, menor o esforço para alcançar a reserva que planeja.

Comece com pouco, comece sem arriscar nada, comece pensando no curto prazo, mas o negócio é começar! E depois, não terceirize a administração do seu dinheiro, é o olho do dono que engorda o gado, procure conhecer mais do mercado financeiro, pesquise sobre os investimentos que pretende fazer. Investir em opções mais arriscadas pode potencializar os ganhos de forma exponencial. Quanto mais você se informa sobre os riscos inerentes às opções de investimento que tem, eles ficam menos assustadores e fáceis de domar. Assim, ser um milionário se torna totalmente possível.

@itaisecabral