Atos de intolerância religiosa praticados em cidades do Rio repercutem no município

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VOLTA REDONDA

Representante de um templo de Umbanda, da Cidade do Aço, que preferiu não se identificar, relatou que já foi vítima de perseguição. Lembrou ainda que, esse tipo de ação não é atual, existe há tempos. “Diante da responsabilidade como zeladora, sempre lidei com essa situação com muita cautela.Nunca me precipitei a reagir de maneira, em que pudesse colocar em risco,a segurança do Templo de um modo geral, sempre buscando orientações para tomar as providências necessárias, conforme a causa”, declarou a representante.

Nos últimos meses, vários casos de intolerância religiosa vêm ocorrendo em cidades do estado do Rio de Janeiro, principalmente em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. As ações criminosas de violência, perseguições e ameaças têm incomodado muita gente, principalmente as lideranças das religiões africanas. Procuradas pela equipe de reportagem do A VOZ DA CIDADE, muitas dessas pessoas, temendo que esses atos cheguem à região, acreditam que o momento é de união das crenças para evitar dor, desespero , inconformidades , revolta e indignação. Lideranças religiosas diversas deram suas opiniões sobre o caso e, por unanimidade, reprovaram a intolerância.

Recentemente, em Volta Redonda, o ativista pela Igualdade Racial, Pedro Antônio Francisco, o mestríssimo Pedro D’Água Limpa, de 67 anos, procurou o A VOZ DA CIDADE para denunciar que foi vítima de intolerância racial e religiosa. A agressão, segundo ele, foi por ele estar usando um manto africano e cocar indígena. Garantiu que não se sentiu diminuído, mas que decidiu relatar o fato para que outras pessoas não passem pela mesma situação. Como o ativista, outras pessoas, que já sofreram na pele algum tipo de perseguição, acreditam que a intolerância racial e religiosa está no mundo inteiro e não é de agora, mas com maior intensidade em algumas localidades. Mas, segundo essas pessoas, mesmo se sentindo vulneráveis, acreditam que, se não acontecer uma mobilização agora na cidade e região, a situação pode piorar e acontecer como nas outras cidades do Estado.

Um dos procurados pelo A VOZ DA CIDADE para falar sobre os casos, o bispo da Diocese Barra do Piraí-Volta Redonda, Dom Francisco Biasin, declarou que esse tipo de ação não pode ser permitida.  “Estamos unidos aos nossos irmãos e irmãs das religiões de matriz africana para denunciar esse tipo de ação intolerante, desrespeitosa e violenta. Não podemos admitir que qualquer pessoa humana seja humilhada e tenha seu espaço de culto, oração e atividade violado. A liberdade religiosa é um direito de todos. Por isso, como Igreja Católica nos esforçamos para promover ambientes de diálogo e fraternidade como irmãos para aquilo que de fato nos une e reconhecer que as diferenças nos enriquecem e não podem ser motivo de violência ou humilhação”, declarou o bispo.

DEFENDENDO TODAS AS FORMAS DA VIDA

Também falou sobre os casos de intolerância, Valdeci de Oliveira Biro. Representante do Centro de Estudos Bíblicos (Cebi),instituição Ecumênica de diálogo inter-religioso e por excelência uma entidade religiosa sem fins lucrativos, defende todas as formas de vida, sem discriminação alguma. Explicou que, como Bacharel em Teologia Sistemática pela Metodista de São Bernardo do Campo (SP), e pós-graduado em Ciências Bíblicas pela Escola Superior de Teologia Luterana de São Leopoldo (RS), coordena o Cebi Volta Redonda. Disse ainda que o trabalho do Cebi é amplo e conta com a sede principal no Rio Grande do Sul.

Declarou que, vê o aumento da intolerância com muita preocupação em todos seus aspectos. “Se demonstra como uma visão reducionista do ser humana, é uma forma de pensamento único fechado e totalitário e exclusivista e não respeita a pluralidade e nem a diversidade das outras formas de pensar a vida. Cabe ao Estado Brasileiro garantir a proteção do cidadão. O que enfraquece a intolerância religiosa é redução ou a perdas dos direitos civis”, destacou. Relatou ainda que, quando isso acontece, toda sociedade se enfraquece. Então, de forma oportunista e raivosa, aparece esse tipo de pensamento único, que não saber conviver com as diferenças na sociedade. “Só se combate intolerância com Estado organizado e forte em sua cidadania, e não é o que vemos hoje”, completou.

Revelou que o Cebi tem ficado ao lado daqueles que sofrem com esta perseguição fundamentalista,denunciado as autoridades competentes e criado uma rede amplas de forças democráticas, que tenha peso na sociedade com CNBB, OAB, Ministério Público, Ministério da Justiça, Secretaria Municipal de Cidadania e outros. “É isso que o Cebi tem feito em todos os lugares do Brasil e aqui não foge à regra”, lembrou. Declarou ainda que, o CEBI, sua formação propõe a Leitura Bíblica feita a partir da Negritude, ou seja, os negros estão presentes tanto no Antigo Testamento, quanto no Novo Testamento. “Está objetivação nos permite afirmar, que reler toda a Bíblia na perspectiva de negritude. Acreditando que o Deus da Bíblia faz opção pelas pessoas e grupos marginalizados. Cito apenas, que história do Êxodo se passa na África (Ex15,19-21). Hoje, com as mulheres, pessoas negras e indígenas e LGBT’s continuam sendo maiores vítimas da gritante exclusão social. Com elas aprendemos a resistir. E evitar uma leitura fundamentalista Bíblia”, concluiu.

AGRESSÃO NÃO É DE AGORA

Representantes da Umbanda, o Babalorixá Gustavo de Xangô e a Mãe Pequena Paula, do Lar de Caridade Luz do Amanhã, em Quatis, também se mostraram preocupados com a intolerância. Acham que não estão virando reféns, mas que essa intolerância já acontece no Rio de Janeiro. Lembrou ainda que, o fato já foi levado há tempos à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) que não tomou nenhuma providência. Relataram que, já participaram de atos contra a intolerância no Rio e sabem que pais e mães de santo são expulsos de seus barracões.

Na região, segundo eles, há algum tipo de perseguição, mas com menos intensidade. “E para que isso não aumente, não precisamos ser agressivos como os que nos atacam, mas nos unirmos e mobilizarmos. Se alguém entrar em nossos terreiros para agredirmos, com certeza serão convidados a se retirarem. Procurar a policia, para tomar providências. Não pode se intimidar, pois a ofensa só é feita para quem aceita e eu não aceito. Nós do Santo sabemos disso. Fale quem quiser, mas intolerância eu não aceito”, declarou Gustavo.

Outras pessoas também ouvidas pela reportagem se mostraram preocupadas com a situação. “Há uma grande necessidade de todo o povo-de-santo se mobilizar, juntamente com todos aqueles que professam as mais diversas religiões e que prezam pela harmonia entre as crenças, para combater com veemência esses atos de violência e de intolerância religiosa”, declarou a universitária Ana Lúcia Oliveira, indagando se a época dos escravos voltou, pois eles não podiam manifestar sua vontade perante a população. “Meu Deus! Que coisa horrível o que está acontecendo. É um absurdo. Cada um deveria se preocupar com a sua religião e respeitar as outras”, relatou a enfermeira Aline Vieira. “Não conheço na vida atitudes que não tragam consequências. O retorno de tido que fazemos nessa vida é certo. É um absurdo. Espírito atrasado”, criticou a estudante Marcela Carvalho, lembrando que esses ignorantes terão retorno.

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