Morte de vereadora carioca e atentados a políticos do Sul Fluminense despertam reflexão sobre segurança

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CAROL MACEDO
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Até quando gritos serão calados?

A polícia segue com a investigação da morte da vereadora Marielle Franco, ocorrida na noite de quarta-feira, dia 14, no Centro do Rio. Além da vereadora, o motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, também foi baleado e morreu. Ao que tudo indica, o caso foi uma execução, já que a vereadora defendia os direitos humanos e um dia antes de sua morte chegou a questionar publicamente ações da Polícia Militar. O velório e o enterro aconteceram no dia 16, com muitas manifestações e homenagens a Marielle, de 38 anos que se apresentava como “mulher, negra, mãe e cria da favela da Maré”. Ela foi a quinta mais votada na cidade em 2016, com 46.502 votos, em sua primeira disputa eleitoral. A pergunta de muitos depois do ocorrido é por que a voz de quem grita precisa ser calada dessa maneira? O caso de Marielle, se comprovada questão política envolvendo a morte e não um crime passional; entrará para a lista de muitos outros já registrados no Estado do Rio de Janeiro. Muitos políticos foram mortos por conta de disputa, posicionamentos, em casos que ainda nem foram finalizados em suas investigações. E mesmo que nem todos os crimes tenham relação, nem foram necessariamente motivados por disputas políticas, não é possível separar a brutalidade de cada um com envolvimento com a política local, grupos de extermínio, tráfico de drogas, ou qualquer outro crime. E o Médio Paraíba não fica longe dessa realidade.

O QUE SE SABE DO CASO MARIELLE

– Na sexta-feira foi divulgado que a munição disparada contra Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes Mathias é de lotes vendidos para a Polícia Federal de Brasília em dezembro de 2006 pela Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC). As polícias Civil e Federal trabalharão em conjunto para investigar quem teve acesso às cápsulas.

– Um dos carros usados no crime foi estacionado por um dos banidos horas antes na Rua dos Inválidos, na Lapa. Ficou parado a poucos metros da Casa das Pretas, onde a vereadora palestrou na noite de quarta-feira. O veículo segue o carro de Marielle, após ela, o motorista e a assessora deixarem o evento. A polícia suspeita que outro carro tenha sido usado no crime.

– O promotor Homero Freitas, titular da 23ª Promotoria de Investigação Penal, que acompanha o inquérito da morte da vereadora e do motorista disse que não existe qualquer razão para federalização das investigações. Um dia após as mortes, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou a instauração de um procedimento para estudar a federalização do caso.

– Foram encontrados no local do crime nove estojos de bala. Quatro disparos atingiram a vereadora e outros três, o motorista. A pistola usada foi a de 9mm e o autor dos disparos é considerado experiente. – Duas testemunhas já prestaram depoimento. Uma delas foi a assessora de Marielle, que estava sentada ao seu lado no banco traseiro, foi atingida por estilhaços e passa bem. Ela deixou o estado do Rio no final de semana para preservar sua segurança física.

– Disque-denúncia recebeu até a noite de sábado, 27 denúncias sobre o assassinato da vereadora e do motorista. O órgão pede que a população continue denunciando.

– Foi achado no domingo um veículo com as mesmas características do utilizado no assassinato de Marielle e do motorista. O carro estava na cidade de Ubá, em Minas Gerais. O Logan de cor prata com placa do Rio de Janeiro foi abandonado na quinta-feira na cidade.

O SOBREVIVENTE

Uns chamam de sorte, outros de mãos de Deus. O prefeito de Paraty, Carlos José Gama Miranda, o Casé, é um sobrevivente. Ele sofreu um atentado na noite de 19 de maio de 2015, quando deixava a prefeitura a noite. Casé foi baleado por um tiro de raspão na cabeça, assim como o funcionário público e primo dele, Sérgio José, que o acompanhava, também foi atingido da mesma forma. Os envolvidos no crime considerado político foram identificados e presos. Ao A VOZ DA CIDADE, o prefeito de Paraty conversou sobre o que aconteceu. Segundo Casé, depois do que atentado, houve mudanças em sua vida. “Não sou mais do mesmo jeito. Era muito despreocupado. Nunca imaginava que alguém pudesse fazer isso comigo. Sabia que tinha adversário político, mas nunca imaginava que teria inimigo capaz de querer me matar. Hoje não posso ser mais assim. Tenho que me precaver. Ando com carro blindado”, contou. Casé falou que gostaria que nada do que ocorreu tivesse mudado seu jeito de ser, mas abalou. Além da parte política, já que quando aconteceu o atentado a prefeitura estava saindo de um ano de crise econômica e começando a se reerguer, a parte pessoal foi, claro, atingida. O prefeito já não participa mais de reuniões à noite. “Isso me prejudicou politicamente. Até hoje quando vejo uma moto com um cara de capacete fico preocupado. Mas não vou deixar de fazer o que preciso para agir corretamente dentro da prefeitura. Até onde apuraram o motivo seria por conta de um terreno”, lembrou. As investigações apontaram que os autores teriam invadido o local há quase cinco anos e foram retirados por meio de uma ação judicial.

OUTROS CASOS

Em outros casos citados nessa matéria especial os políticos não tiveram a mesma sorte do prefeito Casé. Um dos casos que mais repercutiu na região foi a morte do prefeito de Rio Claro, Raul Machado no dia 20 de dezembro de 2015 no sítio conde morava com a esposa, distante quatro quilômetros do Centro. Homens armados e encapuzados teriam entrado na propriedade e rendido o casal. Houve troca de tiros e o prefeito foi morto. A esposa não foi ferida. Homens foram presos dias depois acusados de participação. A conclusão oficial do caso aponta para latrocínio, roubo seguido de morte. Cerca de dois meses depois, no dia 24 de fevereiro de 2016, outro crime chocou a pacata Rio Claro: o presidente da Câmara de Rio Claro, o vereador Silvério Amaro Pereira Filho, o Pendão, foi morto a tiros na RJ-155, a Rodovia Saturnino Braga. A polícia não tratava como roubo seguido de morte, latrocínio. Até hoje não foi divulgada a conclusão do caso. Em Paracambi dois casos foram registrados. Em dezembro de 2015 foi assassinado em sua casa Marco Aurélio Lopes, que era vereador e policial. Chegou-se a dizer na época que o tráfico e a milícia poderiam estar por trás do assassinato. Em outro caso, Darlei Gonçalves Braga também foi assassinado no município. Dentre as linhas de investigação do crime ocorrido em novembro do mesmo ano, o ex-vereador de Japeri teria sido morto por motivação passional. Em Seropédica, também em 2015, o vereador Luciano Batista da Silva morreu baleado ao sair de uma festa.

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