No dia 29 de setembro de 2021, a cidade de Resende comemora oficialmente 220 anos. Convido você a conhecer um pouco dessa história.
Nossa região, conhecida como “Os sertões dos índios bravos”, era habitada por diversas nações indígenas, mas predominantemente pelos povos Puri e Coroado.
Essa área era considerada “terras proibidas” pelo Império, por servir de
caminho alternativo para exploradores de minerais, apresamentos de índios e serviam de rota para os chamados “descaminhos do ouro”. Por volta de 1729, um grupo de exploradores, entre eles, o padre português Felipe Teixeira Pinto e Antônio Gonçalves de Carvalho, abriu uma picada entre Alagoa da Aiuruoca (MG) e as costas do mar de Angra dos Reis (RJ). Estabeleceram às margens do Rio Paraíba do Sul um primitivo arraial. Quinze anos mais tarde, em 1744, a comitiva de Simão da Cunha
Gago, sócio da empreitada, chega a essa região.
Em 1747, o padre Felipe ergueu uma capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, já do outro lado do rio. Em 1756, a capela foi elevada à categoria de matriz e seus domínios passaram a ser a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, que teve como primeiro pároco, o próprio padre Felipe, e em torno dela se desenvolveria o primeiro núcleo urbano de Resende.
Os primeiros colonizadores utilizavam habitações bem simples e em suas roças plantavam milho, feijão, mandioca, cana-de-açúcar e anil; criavam porcos, cavalos e bois; e utilizavam para o beneficiamento das culturas: monjolos, ralos para mandioca, moinho de pedra, entre outros. Em 1768, a Câmara da Freguesia de Guaratinguetá (SP), encarregada pela abertura do Caminho da Piedade, tomou posse da povoação de Campo Alegre apesar da resistência dos particulares aqui já estabelecidos, passaram a administrar oficialmente a região. O segundo vigário de Freguesia de Campo Alegre, padre Henrique de Carvalho articulou junto a autoridades paulistas a mudança do traçado original do Caminho da Piedade que estabeleceu a passagem de um ramal na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Campo Alegre, e isso foi decisivo no processo de ocupação colonial na Paraíba Nova. Foi também o pároco que, por volta de 1775, introduziu o cafeeiro na região com as mudas plantadas na Fazenda da Medanha e doadas pelo padre Couto. Em 1780, acumulou o cargo de vigário de São João Marcos e de Campo Alegre, e com apoio das autoridades de São João Marcos e anuência do Vice-Rei, maior autoridade da Colônia, conseguiu retirar o Campo Alegre da Paraíba Nova do controle do Governo de São Paulo e passar para a Província do Rio de Janeiro em 1785. Em 1788, é criado o aldeamento de São Luiz Beltrão. Já em 1835, o aldeamento foi elevado à categoria de freguesia com o nome de São Vicente Ferrer, e os indígenas que ainda restavam no antigo aldeamento viviam em situação crítica de pobreza e abandono, mas não foram extintos na segunda metade do século XIX, como apresenta a narrativa dominante. O que se observa é um processo de invisibilização da população indígena na documentação oficial e na historiografia, sendo reconhecidos como caboclos (indígenas assimilados) ou pardos já miscigenados. O Censo Imperial de 1872 registra 1.129 caboclos em Resende.
No dia 29 de setembro de 1801, o guarda-mor Fernando Dias Paes Leme da Câmara, herdando a mercê, foi autorizado a fundar aqui, uma vila. E batizou de Vila de Resende, para homenagear o vice-rei do Brasil, D. José Luiz de Castro, o 2º Conde de Resende, findando um processo iniciado no ano de 1799. O primeiro juiz ordinário da vila e presidente da Câmara de Vereadores foi o Dr. André Bernardes Rangel. Em 1810, os cafezais já tomam quase toda Vila de Resende. A economia do café que tinha como pilar o emprego da mão-de-obra de africanos e afro-brasileiros escravizados, não só transformou a sociedade do Vale do Paraíba, como a colocou em uma situação política e econômica privilegiada, que possibilitou acelerar ainda mais suas transformações ao longo daquele século. Mas a sequência dessa história, deixo para uma próxima oportunidade.
Ângelo Márcio de Paula – Graduado em Licenciatura em História pela UniRio, especialista em Museografia e Patrimônio Cultural pela Rede Clarentiano – Batatais/SP e mestrando em História do Trabalho e da Cultura pela UFRRJ