BANANAL
A Cachoeira do Bracuí chama a atenção pela sua beleza e imponência. Localizada na Serra da Bocaina, no município paulista de Bananal, a cachoeira tem vista para a cidade de Angra dos Reis, e atrai o público pela sua beleza singular. Mas acontece que o patrimônio natural está sofrendo risco de extinção.
De acordo com o Geógrafo, Analista Ambiental e Professor, Paulo Cesar Ferreira Stocco, morador de Bananal, está em curso os trâmites que podem autorizar que um antigo projeto saia do papel. Trata-se da construção de uma usina hidrelétrica. Os impactos podem atingir comunidades tradicionais de Angra dos Reis, como o Quilombo Santa Rita do Bracuí e a Terra Indígena Guarani do Bracuí. Ainda haveria prejuízos para os usos múltiplos dos recursos hídricos e para o turismo na região.
Visando impedir que tal projeto saia do papel, Paulo criou um abaixo assinado recolhendo assinaturas para encaminha a autoridades responsáveis, demonstrando a importância do local. “A cachoeira do Bracuí é um patrimônio de todos, em meio a um paraíso de Mata Atlântica de rara beleza cênica, em plena Serra da Bocaina – declarada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2019, Patrimônio Mundial. Não podemos admitir que seja extinta por uma obra de grandes impactos socioambientais, a fim de atender a possíveis interesses econômicos”, destaca.
O abaixo assinado pode ser acessado em https://bit.ly/2FBTXQJ. O documento, de acordo com o analista ambiental, será entregue para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional de águas (ANA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além do Ministério Publico Federal. O documento, já conta aproximadamente 20 mil assinaturas.
O analista destaca que esse é um assunto que já remonta há muitos anos e que volta e meia retorna a pauta, mas sem muita repercussão ou força. “Ocorre que, mais recentemente, soubemos de uma carta da ANA, questionando a prefeitura de Bananal sobre o potencial turístico da Cachoeira do Bracuí para a região. Foi então que a luz amarela acendeu, pois constatamos que estão em curso os trâmites que podem resultar mais a frente que este antigo projeto saia do papel. O título de Patrimônio Mundial não tem força de lei de proteção, ele apenas reconhece a singularidade do ecossistema dentro do bioma da Mata Atlântica. A Serra da Bocaina tem suas singularidades além de ter espécies endêmicas da fauna e da flora”, revela.
IMPACTOS AMBIENTAIS
O professor explica que o projeto trata da construção de uma hidrelétrica, localizada no rio Paca Grande, no município de Bananal-SP e rio Bracuí, no município de Angra dos Reis, ambos integrantes da Bacia Hidrográfica do Atlântico Leste. O rio Paca Grande está inserido na bacia hidrográfica do rio Bracuí, que se situa na Zona de Amortecimento do Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB) (uma parte menor está localizada no interior do Parque Nacional) e, na parte mais baixa, na terra Indígena Guarani de Bracuí. “Pelo projeto, além da barragem, haveria uma captação por derivação do rio Paca Grande, a cerca de 500 metros a montante da queda. Isso acabaria com a cachoeira do Bracuí, ou a deixaria com uma vazão reduzidíssima, apenas um filete de água. Seria realizada a abertura e instalação de um duto por dentro da rocha, por onde a água seria conduzida numa coluna em queda de 900 metros até as turbinas, nas cotas baixas”, informa.
Dentre os possíveis impactos, ele cita os usos múltiplos do recurso hídrico que certamente seriam afetados, com prejuízos ao turismo e à beleza cênica local. “Os impactos socioambientais no lado de Angra dos Reis podem ser ainda mais dramáticos, tendo em vista as estruturas previstas com o atingimento do Quilombo Santa Rita do Bracuí e, possivelmente, da Reserva Indígena Guarani de Bracuí. Isso para não falar da provável derrubada de áreas de Mata Atlântica preservada para a abertura de vias ou demais estruturas para a realização da obra”.