Alta da carne influencia na retração do setor de varejo em dezembro

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SUL FLUMINENSE

A alta do preço da carne bovina no fim de 2019 refletiu na queda do desempenho do setor de varejo, segundo avaliação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada nesta quarta-feira, dia 12. Os dados da Pesquisa Mensal de Comércio indicam a retração de 0,1% em dezembro, na comparação com novembro do ano passado, interrompendo sete meses seguidos de avanço nas vendas.

No acumulado em 2019, o setor cresceu 1,8% e fechou o terceiro ano consecutivo de taxas positivas. “O comércio ainda não se recuperou totalmente da crise de 2015 e 2016, mas está em seu momento mais elevado desde outubro de 2014”, diz a gerente da pesquisa, Isabella Nunes.  Seis das oito atividades pesquisadas no comércio varejista tiveram taxas negativas de novembro para dezembro, sendo que o que mais pesou no índice geral foi o recuo em Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,2%). “Essa atividade, que tem peso de 44% no total do varejo, foi particularmente afetada pelo comportamento dos preços das carnes”, ressalta Isabella Nunes.

A carne teve leve queda de preço, mas ainda pesa no bolso do consumidor – Foto: Divulgação

No comparativo com dezembro do ano anterior, o setor de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, teve recuo de -2,9% no volume de vendas, o maior impacto negativo na formação da taxa global do varejo. A análise pelo indicador acumulado no ano mostrou perda de ritmo ao passar de 0,8% em novembro para 0,4% em dezembro. Um dado projetado por economistas do Sul Fluminense, em meio a alta da carne. “Era perceptível a alta de preços e a rejeição pela dona de casa nos mercados. A carne foi a vilã da inflação e agora tá confirmada como vilão do varejo no mês de dezembro”, frisa a economista Eliane Barbosa.

Já a dona de casa Elisabete Chagas, ressaltou que ainda não sente confiança nos preços da carne. “Baixou, mas ainda está distante do que considero ideal. O quilo do contrafilé estava R$ 39,90 e agora já encontro na faixa de R$ 27,90. Aprendi a pesquisar e trocar. Ainda acho que os preços estão altos e passei a ter menos hábito de consumir a carne em família”, comenta. Por outro lado, há quem não fique sem o ‘reforço’ nas refeições e até momentos de lazer. “Compro carnes no meio de semana porque o preço é mais baixo. No domingo tem futebol e vou fazer almoço com amigos. Não importa o preço, a carne tem que ter no fim de semana, é sagrado pra minha família. Paguei R$97 na compra de agora, se fosse em dezembro deixaria uns R$ 140. Baixou, mas queremos mais barato ainda, vem carnaval aí ”, brinca o técnico de informática, Sandro Marcondes. Na região, em média, o corte mais barato da carne bovina custa R$19,90 e o mais nobre, a partir de R$49,90.

A carne sobre variação de preço e influencia a rotina de consumo – Fotos: Fábio Guimas

BLACK FRIDAY ESTENDIDA

Segundo o IBGE, tiveram taxas negativas de novembro para dezembro: Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-2,0%); Tecidos, vestuário e calçados (-1,0%); Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-10,9%); Combustíveis e lubrificantes (-0,4%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,1%).

Em contrapartida, dois setores mostraram avanço, suavizando a queda no indicador geral estão os Móveis e eletrodomésticos (3,4%) e os Livros, jornais, revistas e papelaria (11,6%). “A Black Friday em 2019 caiu na última sexta-feira do mês de novembro, o que levou o comércio a expandir as promoções para o fim de semana e, assim, muitas das vendas desse evento ocorreram já em dezembro. Pode ter influenciado nos resultados positivos para o setor de móveis e eletrodomésticos”, comenta Isabella.

VAREJO AMPLIADO RECUA 0,8% EM DEZEMBRO

Considerando o comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, as atividades de Veículos, motos, partes e peças e de Material de construção, o volume de vendas em dezembro teve decréscimo de 0,8% em comparação a novembro. O resultado foi impactado, principalmente, pelo recuo de 4,0% em Veículos, motos, partes e peças e de 1,1% em Material de construção ambos, após recuo de 1,6% e 0,1%, respectivamente, registrados no mês anterior.

O segmento de Outros artigos de uso pessoal e doméstico, que engloba lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos, brinquedos etc, exerceu a maior contribuição ao resultado geral do varejo, com avanço de 12,9%, fechando o ano de 2019 com avanço de 6,0% frente a 2018. O setor de Móveis e eletrodomésticos, com aumento de 18,6% no volume de vendas, a melhor taxa desde março de 2012 (20,9%), exerceu o segundo maior impacto positivo, acumulando um índice de 3,6% no ano.

CNC REDUZ EXPECTATIVA DE VENDAS

Ainda sobre o varejo ampliado, nesta quarta-feira, dia 12, a Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC) reduziu a expectativa das vendas no varejo ampliado, em 2020, de +5,4% para +5,3%. Já no varejo restrito – que exclui os ramos automotivo e de materiais construção –, o indicativo é de alta de 3,5%. As projeções tiveram como base os dados da Pesquisa Mensal de Comércio de dezembro, divulgada pelo IBGE.

Para o economista da CNC responsável pela análise, Fabio Bentes, as vendas neste ano deverão manter a atual tendência de alta, ancoradas no Produto Interno Bruto (PIB) e nos indicadores que medem o consumo das famílias. “Fatores como a permanência da inflação baixa e a expectativa de que a taxa básica de juros seja mantida no piso histórico fazem com que esperemos um maior ritmo de atividade econômica em 2020”, afirma.

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