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Alimentos e bebidas puxam alta da inflação em 4,31%, afirma IBGE

Por Idel Pinheiro
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SUL FLUMINENSE

A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou o ano de 2019 em 4,31%, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, dia 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa ficou acima do centro meta de 4,25%, mas dentro do limite de variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Ou seja, a inflação poderia ficar entre 2,75% e 5,75%. Em 2018, o IPCA foi 3,75%.

O IPCA mostra o que a dona de casa do Sul Fluminense e demais regiões do país, em geral, perceberam ao longo do último ano: os preços do grupo alimentos e bebidas pesaram no bolso dos brasileiros. A alta de 6,37% foi puxada, sobretudo, pelas carnes, cujos preços dispararam no mercado interno devido ao aumento das exportações para a China e à desvalorização do real.

Os cortes da carne bovina atraem os consumidores, mas os preços em alta coíbem o consumo elevado

Em Resende, a dona de casa Neuza Machado, 71, critica a política de preços atrelada ao mercado internacional, sobretudo para as carnes. “Subiu muito, o povo não merece isso. Houve a situação do problema na China influenciando as exportações, mas penso que teve falta de bom senso também dos empresários. Essa linha de atrelar tudo que ocorre na economia ao que acontece no mundo é antiga, aproveitam pra subir os preços e o pobre que sofre. Li que temos capacidade pra exportar e manter o abastecimento no país, acho uma brincadeira de mau gosto subir tudo a qualquer medida lá fora”, comenta a consumidora que nas festas de fim de ano reduziu o consumo da carne bovina. “Compramos menos, não teve jeito. Pela época, exploramos mais as carnes brancas de aves como chester e peru, além da carne de porco como o pernil e o tender (pernil defumado). A esperança é que a carne vermelha baixe o preço”, frisa.

Segundo o gerente do IPCA do IBGE, Pedro Kislanov, o destaque da inflação foi justamente a carne, cuja variação acumulada no ano foi de 32,40%, com a maior parte do aumento nos preços concentrada no último bimestre (27,61%). “Pesou também a alta nos planos de saúde (8,24%), por conta do reajuste autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A alimentação fora do domicílio também influenciou o índice, em função do aumento das carnes”, disse. Dos nove grupos de despesa pesquisados, pelo IBGE, apenas artigos de residência tiveram deflação (-0,36%) em 2019.

Supermercados e açougues tiveram procura por itens alternativos, como pernil e aves

Os demais grupos apresentaram os seguintes índices de inflação: alimentação e bebidas (6,37%), habitação (3,9%), vestuário (0,74%), transportes (3,57%), saúde e cuidados pessoais (5,41%), despesas pessoais (4,67%), educação (4,75%) e comunicação (1,07%). A dona de casa Maria Lúcia da Cunha, percebeu a alta das bebidas e alimentos desde novembro, quando antecipava parte das compras para as festas de fim de ano, em 2019. Segundo a moradora de Quatis, os custos foram bem mais elevados que em meses anteriores. “Eu comentei com amigas que estava tudo subindo, já previa algo assim quanto à inflação. Lembro que foi difícil achar tudo que eu queria comprar com um preço bacana. Até hoje a carne está cara e a cerveja e refrigerante também. A ceia foi reduzida pela alta dos alimentos e bebidas”, recorda.

INFLAÇÃO RECORDE EM DEZEMBRO


Segundo o IBGE, os preços das carnes também puxaram a alta do IPCA em dezembro, que ficou em 1,15%, acima dos 0,51% registrados em novembro. Segundo Kislanov, foi o maior resultado para o mês de dezembro desde 2002, quando a inflação foi 2,10%. “Outras altas foram observadas no mês, com destaque para os combustíveis (3,57%) e as passagens áreas, que subiram de 4,35% em novembro para 15,62% em dezembro. Os jogos de azar (12,88%) também impactaram a inflação de dezembro, em função do reajuste nos preços das apostas, vigente desde novembro”, disse o gerente do IPCA.

REAJUSTE SALARIAL ABAIXO DA INFLAÇÃO

O IBGE também divulgou hoje que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para os reajustes salariais, encerrou 2019 com alta de 4,48%, acima dos 3,43% de 2018. Em dezembro, o índice, calculado com base no rendimento das famílias que ganham de um a cinco salários mínimos, variou 1,22%. Foi o maior resultado para o mês desde 2002, quando registrou 2,70%.

Desta forma, o salário mínimo no valor de R$ 1.039 determinado pelo governo federal para 2020 fica abaixo do índice da inflação de 2019. O reajuste perante o antigo salário de R$ 998 foi de 4,1%, aquém do INPC de 2019, que foi de 4,48%. Para a economista Eliane Barbosa, o trabalhador quem sai em desvantagem. “O ideal é que o reajuste salarial fosse ao menos além do índice de inflação. Quem perde é o cidadão, o assalariado que tenta cobrir seus gastos com um salário mínimo de pouco mais de mil reais. A orientação, enquanto educação financeira, é sempre a de ajustar os gastos e focar somente no que for indispensável. Lazer, entretenimento, cultura e outras atividades tendem a ficar comprometidas no orçamento da família brasileira com um salário abaixo do que estipula a inflação: tudo subiu e o salário não acompanha”, comenta.

CÁLCULO NACIONAL

O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980, os dados de âmbito nacional se refere às famílias com rendimento monetário de 01 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia (GO), Campo Grande (MT), Rio Branco (AC), São Luís (MA), Aracaju (SE) e de Brasília (DF).

Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 28 de novembro a 27 de dezembro de 2019 (referência) com os preços vigentes no período de 29 de outubro a 27 de novembro de 2019 (base).

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