Agências da ONU alertam que mundo pode não cumprir meta sobre Fome Zero

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ROMA/ITÁLIA

No ano passado, quase 690 milhões de pessoas passaram fome, 10 milhões a mais que em 2018. Por isso, o mundo corre o risco de não atingir mais o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, número 2, sobre Fome Zero.

Este é o resultado do relatório Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo de 2020, lançado nesta segunda-feira, dia 13, em Roma, na Itália

O documento foi apresentado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, e mais quatro agências: o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, Ifad, o Fundo da ONU para a Infância, Unicef, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, e a Organização Mundial da Saúde, OMS.

Em entrevista à ONU News, a especialista da FAO Anne Kepple afirmou que as conclusões são uma grande preocupação.

“A gente está longe de alcançar o objetivo 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A mesma coisa com a má nutrição. Alguns indicadores de má nutrição estão melhorando, estão pelo menos indo na direção certa. Por exemplo, em crianças com menos de cinco anos, a baixa estatura para a idade está melhorando, porém não com a velocidade necessária para alcançar os objetivos”.

A pesquisa mostra que o maior número de pessoas com fome vive na Ásia, mas a situação também aumenta rapidamente na África, e começa ser agravada pela pandemia de Covid-19. Estima-se que a doença possa lançar de 83 milhões a 132 milhões de pessoas numa situação de fome crônica até o fim deste ano.

Anne Kepple, que faz parte da equipe de Alimentação e Nutrição da Divisão de Estatística da FAO, é uma das coordenadoras da pesquisa. Ela destaca várias ações que os governos podem tomar para resolver estes problemas. “São muitas frentes que precisamos trabalhar. É urgente. E precisamos trabalhar de uma forma mais coordenada e mais incisiva. Uma política óbvia é a promoção de apoio à agricultura familiar, que também vai ajudar na pobreza rural. É muito importante que os governos invistam em programas de proteção social, política pró-pobre, que visam diminuir a desigualdade. Essa é outra frente. A desigualdade está aumentando e com isso à fome, a insegurança alimentar e a desnutrição também”.

Em mensagem de vídeo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a conclusão do relatório era clara. Segundo ele, “se a tendência anual não for revertida, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2, Fome Zero, não será alcançado até 2030”, reiterou Guterres.

Para o chefe da ONU, “a transformação tem de começar agora” e, por isso, ele está convocando um Encontro de Cúpula sobre Sistemas Alimentares para 2021.

País de língua portuguesa

O relatório da ONU ressalta a evolução dos países lusófonos em várias áreas, como desnutrição e obesidade, entre os períodos de 2004-2006 a 2017-2019. Angola consegui reduzir a porcentagem da população com desnutrição de 52,2% para 18,6%. Já a obesidade entre os adultos passou de 6,8% para 8,2%.

No Brasil, 4,1% da população eram desnutridos em 2004-2006, uma taxa que baixou para menos de 2,5%. Já a obesidade, por outro lado, passou de 20,1% para 22,1%. A pesquisa estima que os custos de saúde relacionados com a obesidade no país devem passar de US$ 5,8 bilhão em 2010 para US$ 10,1 bilhão em 2050.

Em Cabo Verde, a insegurança alimentara aumentou de 11,1% para 18,5%, no mesmo período, e a obesidade cresceu de 10,3% para 11,8%. Não existem dados sobre desnutrição na Guiné-Bissau, mas a obesidade subiu de 7,9% para 9,5%.

Em Moçambique, a insegurança alimentar teve uma ligeira descida de 33,4% para 32,6%. A obesidade é de 7,2%. Em Portugal, menos de 2,5% da população sofrem de insegurança alimentar, mas a obesidade cresceu de 19% para 20,8%.

O país de língua portuguesa no sudeste da Ásia, Timor-Leste, conseguiu reduzir a insegurança alimentar de 32,3% para 30,9%, mas a obesidade teve leve alta de 2,9% para 3,8%. Em São Tomé e Príncipe, a fome aumentou 9,2% para 12%, e o mesmo aconteceu com a obesidade, que afeta agora 12,4% dos adultos contra 10,7%, no passado.

Importância

Depois de diminuir constantemente por décadas, a fome crônica começou a aumentar lentamente em 2014. A Ásia continua acolhendo o maior número de desnutridos, 381 milhões, seguida pela África, 250 milhões, e América Latina e Caribe, 48 milhões.

Em termos relativos, existem grandes disparidades regionais. A África é a área mais atingida e o fosso está aumentando, com 19,1% de sua população desnutrida. O valor representa mais que o dobro da taxa na Ásia, 8,3%, e América Latina e no Caribe, 7,4%. Se a tendência continuar, em 2030 o continente africano terá mais da metade de todos os casos de fome crônica do mundo.

Como resultado, quase um terço das crianças com menos de cinco anos, ou seja, 191 milhões de crianças tiveram dificuldades no crescimento em 2019. Outros 38 milhões estavam acima do peso.
Segundo o relatório, uma mudança global para dietas saudáveis ajudaria a combater o problema da fome e custaria menos dinheiro.

Em 2030, os custos de saúde associados a dietas não saudáveis devem chegar a US$ 1,3 trilhão por ano. Já o valor social relacionado às emissões de gases de efeito estufa, estimado em US $ 1,7 trilhão, pode ser reduzido em quase 75%. (*Com informações da Agência ONU News).

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