Imagine um adolescente de 15 anos que sempre foi um aluno exemplar, dedicado e organizado, mas, de repente, suas notas começaram a cair. Em casa, tornou-se mais calado e irritadiço. Seus pais, preocupados, insistiam para que ele “se esforçasse mais”, sem perceber que algo mais profundo estava acontecendo. Lucas estava lidando com uma ansiedade intensa, sentindo-se sobrecarregado e incapaz de expressar seu sofrimento. Somente quando uma professora atenta percebeu sua mudança de comportamento e incentivou uma conversa aberta, ele se sentiu seguro para compartilhar o que estava passando. Com o apoio da família e a ajuda de um psicólogo, conseguiu desenvolver estratégias para lidar com a ansiedade e retomar seu bem-estar emocional.
A adolescência é uma fase de transição intensa, marcada por transformações físicas, emocionais e sociais. O corpo muda rapidamente, a mente se expande e, ao mesmo tempo, os desafios da identidade e da autonomia ganham força. Nesse período, sentimentos de angústia, insegurança e ansiedade são comuns, mas muitas vezes subestimados pelos adultos ao redor.
“É só uma fase”, “todo adolescente é dramático”, “isso passa”—frases como essas são ditas com frequência, minimizando as dores genuínas desse período. No entanto, o sofrimento do adolescente é real e merece atenção. A pressão acadêmica, as mudanças nas relações familiares e sociais, a busca por pertencimento e a crescente exposição às redes sociais podem intensificar emoções difíceis de serem processadas sozinhas.
Escutar os adolescentes é um ato fundamental para o seu desenvolvimento saudável. Quando suas angústias são acolhidas sem julgamento, eles aprendem que seus sentimentos são válidos e que podem buscar ajuda quando necessário. Ignorar ou ridicularizar suas dores pode levar ao isolamento emocional, à baixa autoestima e, em casos mais graves, ao desenvolvimento de transtornos mentais.
Além da escuta ativa, é essencial conduzir o adolescente de forma positiva, ajudando-o a desenvolver estratégias para lidar com os desafios. Incentivar a prática de atividades que promovam bem-estar, como esportes, arte e momentos de lazer, pode contribuir para o equilíbrio emocional. O apoio de amigos, familiares e profissionais especializados pode fazer toda a diferença nesse processo.
Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.