O último ano do Ensino Médio costuma ser apresentado como um momento de celebração e expectativas. Provas, despedidas, festas, vestibulares, a tão esperada maioridade chegando. Mas, por trás das fotos sorridentes e das frases motivacionais, existe um sentimento que cresce silenciosamente entre os jovens: a ansiedade diante da transição para a faculdade.
Entrar na universidade sempre foi visto como um marco. Representa liberdade, amadurecimento, novas responsabilidades e, principalmente, escolhas, inclusive algumas que parecem definir o rumo de toda a vida. E é justamente aí que muitos adolescentes começam a se sentir sobrecarregados.
Para muitos, não é apenas sobre passar ou não no vestibular. É sobre lidar com o peso simbólico dessa etapa: “E se eu escolher errado?”, “E se eu não for bom o suficiente?”, “E se eu decepcionar minha família?”.
No fundo, são perguntas que ecoam um medo ancestral: o medo do futuro, um território desconhecido que exige coragem para ser atravessado.
A ansiedade pré-faculdade pode aparecer em pequenas mudanças no dia a dia: irritabilidade, dificuldade de concentração, cansaço constante, insônia, sensação de estar “sempre atrasado”. Em outros casos, surge como crises de choro, tensão muscular, sudorese, ou aquela sensação incômoda de que “nada é suficiente”.
Por que isso acontece?
Porque, pela primeira vez, muitos jovens se veem diante de decisões que parecem irreversíveis. Porque vivemos em uma sociedade que idolatra sucesso e produtividade. Porque o ambiente competitivo, as comparações e a pressão nas redes sociais intensificam a sensação de inadequação. Porque falta espaço para erro, para dúvida, para respiro.
Mas a verdade é que ninguém está pronto aos 17 ou 18 anos para definir sozinho o próprio destino. E tudo bem.
O que os jovens precisam ouvir?
Que mudança assusta, mas também revela forças que estavam escondidas.
Que ninguém precisa ter todas as respostas agora. Que escolher um curso não aprisiona ninguém, é sempre possível ajustar rotas. Que sucesso não é uma linha reta, e sim um caminho cheio de curvas.
E o que as famílias podem fazer?
Escutar sem pressionar. Perguntar “e aí, já decidiu?” todo dia só aumenta a insegurança; Validar o medo. Dizer “isso é normal, estamos juntos” pode aliviar mais que qualquer conselho técnico; Evitar comparações. Cada jovem tem seu tempo, sua história e seu ritmo. Apoiar as pausas. Descanso não é preguiça, é parte da preparação.
O futuro não precisa ser uma ameaça
Entrar na faculdade não é uma prova final; é o início de uma nova etapa, cheia de oportunidades de aprendizado, autonomia e descobertas.
A ansiedade faz parte, mas não precisa dominar o processo. Quando o medo é acolhido, ele perde força. Quando o jovem é ouvido, ele floresce.
No fim das contas, o que mais importa não é acertar de primeira, mas ter coragem para seguir caminhando, mesmo com dúvidas, mesmo com receios. Porque crescer não é sobre nunca sentir medo, mas sobre aprender a atravessá-lo com gentileza.
E disso, nossos jovens são muito mais capazes do que imaginam.
Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.