A Lei 15.100/25, sancionada nesta semana, proíbe o uso de celulares nas escolas durante o período de aula, salvo para atividades pedagógicas. Essa medida pode parecer radical em um mundo onde a tecnologia faz parte do cotidiano, mas é essencial para proteger o aprendizado e o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes. Vamos entender, de forma simples e clara, por que essa decisão é importante à luz do que a neurociência e a psicologia do desenvolvimento nos mostram sobre o uso de telas.
O impacto das telas no cérebro em formação
O cérebro de crianças e adolescentes está em constante transformação. Ele funciona como uma esponja, absorvendo informações do ambiente para moldar habilidades importantes, como a atenção, o autocontrole, a memória e a capacidade de resolver problemas.
Quando usamos celulares com frequência, especialmente para redes sociais e jogos, ativamos uma área do cérebro chamada sistema de recompensa. Esse sistema libera dopamina, um neurotransmissor que nos faz sentir bem. Mas o problema é que essa estimulação excessiva cria um ciclo vicioso: o cérebro começa a “querer mais” e a ficar menos focado em outras atividades importantes, como estudar, interagir com amigos ou até mesmo descansar.
Além disso, estudos mostram que o uso prolongado de telas está relacionado a dificuldades em manter a atenção, planejar tarefas e lidar com as emoções — habilidades que são fundamentais para o sucesso escolar e a convivência social.
Como isso afeta a escola?
Imagine uma sala de aula onde alunos podem acessar celulares a qualquer momento. A curiosidade por notificações, redes sociais ou jogos tira o foco das explicações do professor e das tarefas. E não é só isso: o tempo gasto com o celular reduz as interações cara a cara, que são essenciais para aprender a trabalhar em grupo, entender sentimentos e construir amizades.
Além disso, há um impacto emocional. O uso constante de redes sociais pode levar a comparações com outras pessoas, gerando ansiedade, baixa autoestima e até depressão, especialmente em adolescentes. A escola, que deveria ser um espaço de aprendizado e interação saudável, acaba sendo invadida por essas distrações e preocupações.
Proibir o uso de celulares nas escolas não significa ignorar os avanços da tecnologia. Pelo contrário, significa usá-la de forma consciente e adequada. Essa medida cria um ambiente onde as crianças podem:
– Aprender com mais foco: Sem as distrações do celular, elas conseguem prestar atenção nas aulas e absorver melhor os conteúdos.
– Desenvolver habilidades sociais: Conversar e brincar com colegas sem a interferência de uma tela ajuda a construir empatia e colaboração.
– Cuidar da saúde mental: Sem a pressão constante das redes sociais, há mais espaço para o bem-estar emocional.
O papel da escola e da família
Para que essas medidas funcionem, é importante que pais e professores estejam alinhados. As famílias podem ajudar limitando o uso de celulares em casa e explicando às crianças por que isso é necessário. Já as escolas podem ensinar a usar a tecnologia de forma positiva, como ferramenta de pesquisa e aprendizado, mas em momentos planejados e supervisionados.
Mais do que controlar, essa medida pode educar para o uso consciente da tecnologia, preparando os jovens para um futuro em que o equilíbrio entre o digital e o real será cada vez mais importante. É na família que esses limites devem ser estabelecidos.
Se você está com dificuldades para estabelecer limites e ter diálogos saudáveis em casa, procure um psicólogo.
Marcele Campos
Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver.