Esta semana, conversando com a mãe de uma criança autista e ouvindo as suas dificuldades e principalmente a queixa do cansaço e da sobrecarga, me veio uma reflexão e acho importante deixá-la aqui.
As mães sentem no corpo e na alma o peso dos meses que passaram. Cuidar, apoiar, ajudar nas lições, administrar agendas de atividades, preparar lanches e ainda conciliar todas as demandas pessoais e profissionais — o cansaço se instala. Mas é um cansaço diferente, mais profundo, que ecoa não apenas no físico, mas na essência de quem carrega o papel de criar, nutrir e fortalecer. E, enquanto nos envolvemos na correria de fechar esse ciclo, muitas mães se perguntam: “Será que consegui dar o meu melhor?”
Esse esgotamento não é só um sinal de esforço ou de rotina cheia. Ele é uma lembrança de tudo o que foi dedicado, de tudo o que foi feito em nome do amor, do compromisso e do desejo de ver os filhos crescerem saudáveis, felizes e realizados. E, entre o cansaço e o amor, muitas vezes surge o peso de uma cobrança interna. Como mãe, talvez você sinta que poderia ter feito mais — que poderia ter participado de mais reuniões, incentivado mais a leitura, apoiado ainda mais nas tarefas. Mas a verdade é que cada sorriso, cada conversa, cada momento compartilhado é um presente que você dá ao seu filho e também a você mesma.
Aos olhos das crianças, você já é suficiente. Elas veem, em pequenos gestos, todo o sacrifício, o carinho e a força que investe em suas vidas. Mas, no fim desse ciclo, é hora de olhar para você. Reconheça seu cansaço, dê espaço a ele, respire fundo e permita-se acolher essa exaustão como um sinal de tudo o que você conquistou.
É preciso lembrar que mães são, sim, mulheres que possuem limites, que precisam de cuidados e que têm todo o direito de se recarregar. Esse fim de ano pode ser, então, um convite para que você busque descanso sem culpa, para que se lembre que, para cuidar do outro, é necessário cuidar de si.
Neste momento, mais do que fazer mais, permita-se ser. Permita-se acolher o cansaço sem culpa, com a ternura que você reserva para os outros. E lembre-se: uma mãe que se cuida ensina ao filho a importância do autocuidado, do respeito por si mesma e da beleza em ser humana, com forças e fraquezas.
Vamos juntas!!
Marcele Campos – Psicóloga Especialista em Neuropsicologia (Avaliação e Reabilitação) e Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, Atrasos de Desenvolvimento Intelectual e Linguagem. Trabalha há mais de 28 anos com crianças e adolescentes. Proprietária da Clínica Neurodesenvolver –