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Museu em memória às vítimas da ditadura em Barra Mansa terá visitas agendadas à estudantes da região

Por Carol Macedo
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BARRA MANSA

Inaugurado recentemente em Barra Mansa, o Museu do Trabalho e Direitos Humanos, em memória às vítimas da ditadura, que é organizado pelo Centro de Memória do Sul Fluminense Genival Luiz da Silva, da Universidade Federal Fluminense (UFF), já está aberto para visitação de estudantes do município e da região. O espaço está instalado no Parque da Cidade, que no passado sediou o antigo 1° Batalhão de Infantaria Blindada do Exército (BIB) e o 22° Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército (BIMtz) e que funcionou como centro de repressão e tortura na Região Sul Fluminense durante a ditatura.

A instalação é desdobramento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público Federal (MPF) e a prefeitura.  Conforme explica a coordenadora do Centro de Memória, Alejandra Estevez, que recebeu a equipe do A VOZ DA CIDADE, o museu está em um galpão que teria abrigado as celas dos presos políticos. O local reúne fotos espalhadas, frases e depoimentos de vítimas da tortura, além de artigos que resumem um pouco do que se passou no local.

Para o segundo semestre, ela adianta que está sendo preparada uma mostra, com elementos mais completos, em formato de exposição. A iniciativa ainda está dependendo do repasse de verbas e emendas parlamentares que apoiam o projeto de criação do museu. “Aqui temos um material que resume todo mundo que passou pelo BIMtz e os principais grupos que foram perseguidos politicamente. É importante para que os adolescentes e os jovens vejam que uma parte importante da história aconteceu bem próximo. Muitos deles que já estiveram aqui se revoltam nas visitas e saem indignados e questionam pais e avós sobre esse passado. Isso é uma prova de que essa memória está bastante viva”, destacou a coordenadora, ao informar que os agendamentos podem ser feitos pelo e-mail: [email protected].

Foto: Iam Martins

Foto: Iam Martins

 

 

 

 

 

Segundo Alejandra, desde 2018, por meio de projetos de extensão da UFF, as visitas agendadas já estavam sendo desenvolvidas no antigo BIB para turmas da Educação Básica, Ensino Fundamental e Médio. A finalidade, segundo ela, sempre foi deixar claro que todo espaço, do que hoje é o Parque da Cidade, é de interesse histórico. Ela cita, por exemplo, o prédio onde funciona a base da Guarda Municipal, logo na entrada, e que durante a ditadura serviu de prisão massiva para os presos de 1964 e 1968.


“Nesse local os presos passavam por triagens e interrogatórios e seus familiares ficavam à beira da linha esperando para tentar falar com eles ou ter alguma notícia. Em outra área temos uma caixa d ‘água enorme, já desativada, que tem as inscrições do 22º BIMtz, uma marca do tempo da ditadura que ainda está ali. O local em que hoje funciona o Centro Municipal de Atendimento Especializado (CEMAE) é onde ocorriam as torturas, antes dos presos irem para a prisão”, pontuou a coordenadora, ao acrescentar que existe um projeto para que essas edificações sejam sinalizadas para que a população tenha conhecimento do que já ocorreu nesses locais

Fatos históricos sobre o BIB

O 1° Batalhão de Infantaria Blindada (BIB), foi criado em 1950 com a função de “assegurar a ordem pública” na região. O primeiro grupo a sofrer as consequências diretas da perseguição política foram os trabalhadores da CSN e os diretores do Sindicato dos Metalúrgicos da região, provocando a demissão de inúmeros trabalhadores e dificuldades para conseguir emprego no entorno.

A partir de 1966, com a chegada do bispo Dom Waldyr, os católicos se tornaram o novo alvo das perseguições políticas porque a igreja passava a se dedicar a um trabalho pastoral junto às comunidades mais pobres e se posicionava de forma crítica ao regime militar. Padres e militantes católicos foram intimados, obrigados a prestarem depoimentos, presos e torturados, sob a responsabilidade do 1° BIB.

Outro fato histórico é a comprovação de que militares haviam torturado 15 soldados do próprio batalhão, o que resultou na morte de quatro deles, levando à condenação judicial dos envolvidos por determinação da própria Justiça Militar. Em 1973, no auge da repressão política, a Justiça Militar condenou sete militares, sem distinção de patentes, e encerrou as atividades do 1° BIB. Trata-se do único caso em que militares foram responsabilizados e punidos por suas práticas durante o regime militar pela própria Justiça Militar. O episódio ficou conhecido nacionalmente.

Foto: Iam Martins

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