BARRA MANSA
Inaugurado recentemente em Barra Mansa, o Museu do Trabalho e Direitos Humanos, em memória às vítimas da ditadura, que é organizado pelo Centro de Memória do Sul Fluminense Genival Luiz da Silva, da Universidade Federal Fluminense (UFF), já está aberto para visitação de estudantes do município e da região. O espaço está instalado no Parque da Cidade, que no passado sediou o antigo 1° Batalhão de Infantaria Blindada do Exército (BIB) e o 22° Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército (BIMtz) e que funcionou como centro de repressão e tortura na Região Sul Fluminense durante a ditatura.
A instalação é desdobramento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público Federal (MPF) e a prefeitura. Conforme explica a coordenadora do Centro de Memória, Alejandra Estevez, que recebeu a equipe do A VOZ DA CIDADE, o museu está em um galpão que teria abrigado as celas dos presos políticos. O local reúne fotos espalhadas, frases e depoimentos de vítimas da tortura, além de artigos que resumem um pouco do que se passou no local.
Para o segundo semestre, ela adianta que está sendo preparada uma mostra, com elementos mais completos, em formato de exposição. A iniciativa ainda está dependendo do repasse de verbas e emendas parlamentares que apoiam o projeto de criação do museu. “Aqui temos um material que resume todo mundo que passou pelo BIMtz e os principais grupos que foram perseguidos politicamente. É importante para que os adolescentes e os jovens vejam que uma parte importante da história aconteceu bem próximo. Muitos deles que já estiveram aqui se revoltam nas visitas e saem indignados e questionam pais e avós sobre esse passado. Isso é uma prova de que essa memória está bastante viva”, destacou a coordenadora, ao informar que os agendamentos podem ser feitos pelo e-mail: [email protected].
Segundo Alejandra, desde 2018, por meio de projetos de extensão da UFF, as visitas agendadas já estavam sendo desenvolvidas no antigo BIB para turmas da Educação Básica, Ensino Fundamental e Médio. A finalidade, segundo ela, sempre foi deixar claro que todo espaço, do que hoje é o Parque da Cidade, é de interesse histórico. Ela cita, por exemplo, o prédio onde funciona a base da Guarda Municipal, logo na entrada, e que durante a ditadura serviu de prisão massiva para os presos de 1964 e 1968.
“Nesse local os presos passavam por triagens e interrogatórios e seus familiares ficavam à beira da linha esperando para tentar falar com eles ou ter alguma notícia. Em outra área temos uma caixa d ‘água enorme, já desativada, que tem as inscrições do 22º BIMtz, uma marca do tempo da ditadura que ainda está ali. O local em que hoje funciona o Centro Municipal de Atendimento Especializado (CEMAE) é onde ocorriam as torturas, antes dos presos irem para a prisão”, pontuou a coordenadora, ao acrescentar que existe um projeto para que essas edificações sejam sinalizadas para que a população tenha conhecimento do que já ocorreu nesses locais
Fatos históricos sobre o BIB
O 1° Batalhão de Infantaria Blindada (BIB), foi criado em 1950 com a função de “assegurar a ordem pública” na região. O primeiro grupo a sofrer as consequências diretas da perseguição política foram os trabalhadores da CSN e os diretores do Sindicato dos Metalúrgicos da região, provocando a demissão de inúmeros trabalhadores e dificuldades para conseguir emprego no entorno.
A partir de 1966, com a chegada do bispo Dom Waldyr, os católicos se tornaram o novo alvo das perseguições políticas porque a igreja passava a se dedicar a um trabalho pastoral junto às comunidades mais pobres e se posicionava de forma crítica ao regime militar. Padres e militantes católicos foram intimados, obrigados a prestarem depoimentos, presos e torturados, sob a responsabilidade do 1° BIB.
Outro fato histórico é a comprovação de que militares haviam torturado 15 soldados do próprio batalhão, o que resultou na morte de quatro deles, levando à condenação judicial dos envolvidos por determinação da própria Justiça Militar. Em 1973, no auge da repressão política, a Justiça Militar condenou sete militares, sem distinção de patentes, e encerrou as atividades do 1° BIB. Trata-se do único caso em que militares foram responsabilizados e punidos por suas práticas durante o regime militar pela própria Justiça Militar. O episódio ficou conhecido nacionalmente.