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O Brasil desconexo da realidade: um discurso nada moderado e cheio de mentiras de Bolsonaro na ONU

Por Carol Macedo
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NOVA IORQUE

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi o primeiro chefe de Estado a discursar na abertura da 76ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta terça-feira, 21 de setembro. Cabe ao presidente do Brasil fazer o discurso de abertura do evento, seguido do presidente dos Estados Unidos. A tradição vem desde os primórdios das Nações Unidas, quando o diplomata Oswaldo Aranha, então chefe da delegação brasileira, presidiu a Assembleia Geral, em 1947.

Para esta terça-feira, estão previstas mais de 100 intervenções dos chefes de Estado e de governo. O evento começou no último dia 14 e, desde então, estão acontecendo reuniões, conferências e encontros paralelos. O tema desde ano é “Construindo resiliência por meio da esperança – para se recuperar da covid-19, reconstruir de forma sustentável, responder às necessidades do planeta, respeitar os direitos das pessoas e revitalizar as Nações Unidas”.

Em Nova Iorque, na sede das nações unidas, o presidente iniciou a fala de 12 minutos prometendo mostrar um país diferente “daquilo publicado em jornais ou visto em televisões”. Em um tom forte, disse que está desde o início de seu governo “sem casos de corrupção”, ignorando investigações, inclusive de CPIs, “Estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção. Nossas estatais davam prejuízos de bilhões de dólares, hoje são lucrativas”, afirma.

Segundo Bolsonaro, em um discurso completamente desconexo com a realidade, a credibilidade do país já foi recuperada e mencionou US$ 100 bilhões em novos investimentos. Cerca de US$ 6 bilhões  foram gerados em contratos privados para ferrovias e o leilão para a implementação da tecnologia 5G no país, que será realizado em breve.

Esta foi a terceira vez que o presidente do Brasil discursou na Assembleia Geral da ONU. Jair Bolsonaro afirmou que o Código Florestal brasileiro deve “servir de exemplo para outros países” e convidou os líderes mundiais para visitarem a Amazônia.

Sobre a crise mundial de refugiados, Bolsonaro lembrou que o Brasil já acolheu 400 mil venezuelanos e que agora, irá conceder “visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes” do Afeganistão.

Em seu discurso, Bolsonaro falou grande parte do tempo sobre a preservação da Amazônia, ponto em que o governo é criticado dentro e fora do Brasil, em virtude da política ambiental em vigor e dos desmatamentos e queimadas em alta escala. Segundo ele, houve uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a período anterior. O que não é mentira, mas os dados não traduzem a realidade ambiental e ignoram o contexto de avanço da destruição nos últimos três anos – período do atual governo. Somente neste ano, a Amazônia, no primeiro semestre, teve a maior área sob alerta de desmate em seis anos. Segundo o Inpe, o desmatamento acumulado na floresta corresponde a cerca de 20%, permanecendo 80% da Amazônia de pé. O presidente falou de 84% e convidou os presentes na assembleia a visitar o local. Ele ainda questionou no discurso qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a do Brasil.

Esta foi a terceira vez que o presidente do Brasil discursou na Assembleia Geral da ONU – Foto: UNCA Poll

COVID-19 E MEDICAMENTO SEM COMPROVAÇÃO


O presidente destacou que a pandemia de Covid-19 “pegou a todos de surpresa em 2020”. Ele lamentou todas as mortes ocorridas no Brasil e no mundo e afirmou que sempre defendeu “combater o vírus e o desemprego de forma simultânea”.

“No Brasil, para atender àqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020”, apontou.  Jair Bolsonaro afirmou ainda que foram criados 1,8 milhão de novos empregos no Brasil este ano.

Ainda sobre a Covid-19, o presidente afirmou que o Governo Federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacina e que 90% da população adulta já recebeu, pelo menos, a primeira dose. “Oitenta por cento da população indígena também já foi totalmente vacinada. Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos. Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada à vacina”, diz. Na parte da pandemia, voltou a defender o “tratamento precoce” contra a Covid-19, o uso de medicamentos que são comprovadamente ineficazes contra o novo coronavírus, que já foi descartado inclusive pela Organização Mundial da Saúde (OMS), um órgão da própria ONU. A OMS já disse que a cloroquina não deve ser usada como forma de prevenção. A Associação Médica Brasileira e a Sociedade Brasileira de Infectologia também comungam da mesma opinião, assim como outros remédios sem eficácia contra a doença.

O presidente Jair Bolsonaro disse ainda que não entende como muitos países são “contrários ao tratamento precoce” em casos positivos de Covid-19, cuja ineficácia é comprovada e disse que o Brasil estava à beira do socialismo antes de assumir o governo.

Apesar de tentar mostrar otimismo com dados econômicos, o presidente voltou a usar críticas ao combate à pandemia, contrariando orientações científicas, Bolsonaro defendeu mais uma vez, como fez diversas vezes na pandemia, o tratamento precoce com remédios como cloroquina e ivermectina, comprovadamente ineficazes contra a Covid-19. Ele voltou a dizer que brasileiros foram “obrigados” a ficar em casa por decisão de governadores, e por isso, perderam a sua renda. Mas tentou trazer para si o mérito de ter implantado o auxílio emergencial para enfrentar a crise, porém o auxílio emergencial foi aprovado pelo Congresso Nacional em um valor muito superior ao proposto pelo governo Bolsonaro.

Ele encerrou o discurso na Assembleia Geral afirmando que o “Brasil vive novos tempos” e que na economia, tem um dos “melhores desempenhos” entre nações emergentes.

Silas Avila Jr

Editor Internacional do Jornal Voz da Cidade

Jornalista correspondente na Organização das Nações Unidas em Nova Iorque

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