Dualidade, intensidade e rebuscamento
Oi, gente!
Hoje, quero fazer algumas considerações a respeito da Literatura Barroca no Brasil. Vamos ver o poema “A Jesus Cristo nosso Senhor”, de Gregório de Matos:
“Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Antes, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida já cobrada,
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História.”
A primeira característica do movimento para qual chamo atenção, é a dualidade carne versus espírito, que é a base que norteia a cultura cristã ainda nos dias de hoje. Quanto à maneira de escrever, nota-se o cuidado com o uso da língua, prevalecendo o jeito rebuscado, seja pela aplicação da norma culta ou pela escolha de vocabulário. Além disso, temos rimas alternadas entre os versos, como nas linhas 1 e 4, respectivamente nos termos ‘pecado’ e ‘empenhado’. No sentido temático, repare como é interessante a oposição entre a falha humana em constantemente pecar, e a bondade divina, que busca sempre perdoar.
Por fim, trago a questão da intensidade, no peso que têm as palavras, na maneira como o sentimento do poeta é expresso. Gregório de Matos nasceu em 23 de dezembro de 1636, em Salvador, Bahia. Por criticar mazelas sociais da época, inclusive a Igreja Católica, ficou conhecido como “Boca do Inferno”.
A Literatura como ferramenta de protesto e transformação social, são marcantes aspectos de Gregório de Matos.
Por: Robson Chaves – Professor de Português e Literaturas, poeta da Fundação de Cultura de Barra Mansa, membro da Academia Volta-Redondense de Letras e autor do livro “A Divina Poética”.
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