Frequentemente ele era visto sentado no murinho diante do ponto de taxi, ao lado do jardim da praça da Matriz em Barra Mansa. Gostava dali porque era onde encontrava o taxista Getúlio Pardal e o aposentado Luquinha, amigos dos poucos que ainda estavam vivos.
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Seus olhos não se fixavam particularmente em nada parecendo, sim, estar em mergulho profundo no passado. Sua barba por fazer, o sapato gasto, as roupas simples e bem usadas denunciavam uma vida de poucos recursos. Mas, nele, do olhar sereno e do rosto sem marcas de amargura, sobressaia a altivez dos fortes de bom coração.
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Nesses tempos modernos quando surgem a todo momento grandes famosos, nem tão grandes nem tão famosos como parecem ser, a maioria dos que passavam por aquele senhor de gestos simples nem imaginava que ali estava um dos maiores e autênticos famosos da sua época, 1960, uma época de poucos famosos.
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Aquele senhor, Antonio Evanil de Souza, faleceu quinta-feira, aos 84 anos de idade e foi sepultado ontem em Quatis, sua terra Natal. Sua morte e os fatos marcantes da sua vida como jogador de futebol, onde era conhecido pelo apelido de Coronel, foram destaque em centenas de jornais, sítios de noticias, emissoras de rádio e de televisão no Brasil e no exterior.
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Uns contavam o episódio da partida no Maracanã, entre Vasco da Gama, onde jogava Coronel, e o Santos onde jogava Pelé. Para depois rir, os companheiros de Pelé avisaram que no time do Vasco havia um Coronel e como ele era recruta deveria ir até lá prestar continência. Pelé foi, cumpriu a recomendação e quando voltou zoaram dele até na viagem de volta.
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Outros contam que faleceu o último ‘João’ de Garrincha, apelido que se dava a quem tinha a missão de marcar o ponta direita em campo, tarefa quase impossível, a não ser com muita botinada. Pois Garrincha sempre afirmou que seu marcador mais eficiente foi Coronel de quem jamais recebeu uma jogada maldosa.
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Eu conto que se não fosse o então barra-mansense/quatiense Coronel e o barrense Paulo Valentim, a seleção brasileira de 1959, com craques como Castilho, Djalma Santos, Bellini, Didi e Garrincha, teria apanhado dos uruguaios no braço e na bola, em Buenos Aires, na decisão do campeonato sul-americano.
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Mas, aconteceu o contrário. Jovem forte, raçudo e respeitado, Coronel evitou a briga e Paulo Valentim, em seguida, fez os três gols que deram a vitória ao Brasil, primeiro título internacional depois da conquista da primeira copa do mundo, ganha um ano antes na Suécia.
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No infinito do universo, os deuses do futebol receberam Coronel de braços abertos, agradecendo o que ele fez de bom pela grandeza
do futebol. Aqui na terra nós agradecemos a dona Antonia Ivany Silva, de 63 anos, e seu Wilson Silva. Ela, sobrinha, e o marido acolheram e há muitos anos cuidavam de Coronel.
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Sem aposentadoria, sem convênio médico e um benefício de apenas 980 reais, a história de Antonio Evaniel de Souza – Coronel, serve de exemplo como prática de solidariedade e fraternidade. Para os cartolas e gestores públicos, de alerta para a realidade do jogador de futebol e dos atletas em geral que não se tornaram ricos; a maioria!